
Em uma casa do Morro de São Januário, Ronaldo estava sem camisa, erguendo pesos de cem quilos. Estava com um semblante sério, pensativo. Lembrava de cada momento em que Rubro Negro atrapalhou sua vida, tirando seus empregos, o humilhando. Só que dessa vez seria diferente.
Segundo Ronaldo, Rubro Negro mudou seu uniforme para um branco com detalhes em vermelho e preto, atrás apenas de publicidade. Mas agora ele teria um encontro com alguém que usasse verdadeiramente as cores brancas e negras. As cores da gangue de Ronaldo.
O jovem largou o peso de cem quilos de lado e andou até a parede de seu quarto, onde encarou as várias fotos de jornal do Rubro Negro em ação. Com um soco, provocou um rombo no concreto, esmagando uma foto.
- Agora é vez do Cruz de Malta.
Rubro Negro estava com seu uniforme original naquela noite fria e chuvosa. Porém, também usava um casaco por cima, porque era um tanto friorento. Ele havia conseguido um novo uniforme costurando ele mesmo os buracos. Levou um dia inteiro, mas foi bem sucedido. Além do mais, estava farto do uniforme branco.
Arrastando o último policial, o jogou sobre os outros três desacordados. Limpou as mãos e caminhou até os alvos daqueles homens da lei.
- Pronto. Esses corruptos não irão mais incomodar trabalhadores como vocês.
- Obrigado, Rubro Negro – um daqueles dois jovens eram repórteres negros de um jornal da comunidade da Favela do Jacarezinho. Eles investigavam um delegado corrupto que recebia propina do jogo do bicho e vendia armas para traficantes da região. Rubro Negro havia insistido e vigiar durante uma semana inteira aquela favela, pois queria achar pistas do paradeiro de Ricardinho. Não havia encontrado nada.
Depois dessa ação, ele sentiu orgulho de si mesmo. A noite já avançava e queria logo voltar para casa. Correndo pelas ruas desertas, não queria perder tempo na parada de ônibus. Correndo ele chegaria mais rápido em casa. Então, recebeu uma mensagem de texto no celular de Sofia. Marcava um encontro na noite seguinte.
“Maravilha, vou poder me desculpar do modo como a tratei aquela vez. Dar em cima descaradamente daquele jeito não é meu estilo, definitivamente.”
Rubro Negro ouviu um barulho de algo chocando em uma lataria. Bufou impaciente, e decidiu averiguar. Dobrou a esquina da Rua São Francisco Xavier com a Rua Luiz de Matos e viu Ronaldo.
Ele estava sobre o teto amassado de um carro. Vestia um casaco negro, fechado, luvas e coturnos negros e calças brancas. Sorria ansioso.
- Ronaldo? O que você tá fazendo aqui? – Rubro Negro não sabia o que esperar. Desde que a mesma fórmula que lhe deu poderes havia sido injetado em Ronaldo, Rubro Negro não sabia seu paradeiro. Não sabia o que esperar.
- A mesma coisa que você, Rubro Negro. Ou se importa se eu te chamar de... Arthur Ribeiro?
Rubro Negro arregalou os olhos, tremendamente assustado.
- Como é que é?
- Ah, você é mesmo um idiota quando quer, não é mesmo, Arthur? Quem diria, um idiota como você é o lendário Rubro Negro – Ronaldo sorria, mal continha sua enorme vontade de rir.
- Como você...?
- O problema é que o Ronaldo aqui não é o mesmo de antes. Depois daquele dia eu resolvi te caçar para o acerto de contas e vi que tu era muito previsível. Era óbvio que voltaria praquela favela. E é óbvio que eu te espionei. Tu foi muito descuidado. Tirou sua máscara num território em que patrulhava, não é mesmo?
- Ronaldo, seu idiota... – Rubro Negro sentia-se envergonhado por ter sido descoberto. Era um orgulho ferido.
- Eu larguei essa vida miserável que era ser Ronaldo. Agora – começou a abrir o zíper frontal de seu casaco negro – eu sou Cruz de Malta.
Ele tinha uma camiseta branca, sem mangas com uma faixa vertical negra e cruzada do ombro até o abdômen. Tirou do bolso do casaco uma máscara metade branca, metade negra. Assim que vestiu, não se conteve e gargalhou.
Rubro Negro não acreditava no que estava acontecendo. Será que Ronaldo havia enlouquecido? Será que ele tinha poderes? Só havia uma forma de saber. Ele correu em direção à Cruz de Malta e saltou sobre o carro, preparando um soco duplo. Cruz de Malta segurou seus dois braços na mesma hora, evitando o soco. O impacto do golpe fez a lataria do teto do carro afundar mais um pouco, fazendo os vidros se quebrarem. Definitivamente, Ronaldo/Cruz de Malta tinha super-força.
- Surpreso? – Cruz de Malta media forças com Rubro Negro, erguendo-o no ar, enquanto o teto do carro era afundado cada vez mais pelo peso de Cruz de Malta e a pressão dos dois.
Rubro Negro estava suando, usando toda sua força para tentar se livrar daquela imobilização. Mas não conseguia. O herói mascarado não parava de se surpreender. Cruz de Malta flexionou os braços, fazendo suas veias sobressaírem. Rubro Negro foi jogado pra cima.
- Parece que eu sou mais forte que você agora, molambo! – Cruz de Malta olhava pra cima, observando o vôo e a queda do Rubro Negro do meio da rua.
- Não conte com isso. – Rubro Negro se erguia e concentrava sua energia de plasma. Cruz de Malta saltou descendo do carro e cruzou os braços a dez metros de distância. Não largava o sorriso do rosto.
Rubro Negro disparou sua rajada de plasma, mas Cruz de Malta desviou para o lado facilmente. E riu daquilo. Rubro Negro já sentia dor de cabeça e enjoou por aquela risada. Cruz de Malta saltou sobre Rubro Negro desferindo um soco em seu rosto, fazendo-o girar no ar e capotar alguns metros no chão. Era um soco muito poderoso.
- Quero ver agora tu usar um dedo para se defender de um soco meu. – Cruz de Malta falava com rancor em sua voz. Aproveitou Rubro Negro no chão e lhe deu um chute na barriga o erguendo do chão. Nesse segundo erguido, Rubro Negro ainda recebeu um soco com as mãos juntas de Cruz de Malta, fazendo sua queda ao chão ser mais dolorosa. Sua cara provocou uma rachadura no asfalto.
Sem tempo de reação, Rubro Negro estava aturdido, sentido o mundo a sua volta girar. Cruz de Malta não parou, pisou em sua cabeça, aumentando a rachadura no asfalto. Rubro Negro lutava para não perder a consciência, então com uma mão segurou a perna de apoio de seu adversário. Fez um puxão, o desequilibrando. Nesse momento, ele rolou para o lado e se levantou do chão. Seu rosto estava com várias escoriações e sangue. Seu poder de cura começava a agir.
- Cruz de Malta, não é? Então é sobre isso que se trata? Uma briga de gangues?
- Se trata sobre eu e você, pequeno Arthur. Sobre tu ferrar com minha vida e minha vingança. Agora eu tenho poder para isso.
- Infelizmente, pra você, eu não vou perder.
Rubro Negro canalizou toda sua energia em suas mãos e disparou uma poderosa rajada de plasma. Cruz de Malta juntou suas duas mãos e disparou uma rajada de plasma idêntica, para a surpresa de Rubro Negro. As duas energias se chocaram, provocando uma poderosa ventania em volta. Os dois poderes se anularam.
- Tu vai me pagar. Mas eu vou aproveitar essa vingança vagarosamente... – Cruz de Malta soltou uma gargalhada e apontou para um ônibus que vinha pela rua. Disparou um raio nele, fazendo tombar. Rubro Negro correu para o ônibus a fim de socorrer as pessoas. Ele ficou aliviado de haver apenas quatro pessoas. As retirou e afastou dali, antes da explosão do ônibus.
Olhando para os lados, não viu mais Cruz de Malta. Rubro Negro estava assustado.
No dia seguinte, Arthur estava sentado em sua cama. Havia dormido poucas horas, pois estava muito preocupado. Ronaldo sabia de sua identidade secreta e possuía poderes. Aquela fórmula injetada realmente lhe garantiu poderes iguais aos dele. Arthur decidiu que iria procurar saber onde estava Ronaldo. Não podia perder mais tempo.
Saindo de casa, pegou um ônibus para a Avenida Presidente Vargas. Uma vez lá, pegaria um ônibus que passasse pela Linha Vermelha. Ele sabia que Ronaldo morava em algum ponto de lá. Sua pesquisa pela internet não lhe foi mais específica que isso.
“Ele pode estar em qualquer lugar. O cara pirou totalmente, só quer saber de vingança. Pode estar me seguindo e eu não vou saber. Que merda, deveria tê-lo jogado na cadeia quando tive chance”.
Arthur desceu do ônibus e foi até um canto sujo e escondido. Havia decidido que era melhor continuar a viagem como Rubro Negro, para ser mais rápido. Era arriscado sair de dia, mas abriria essa exceção nesse momento difícil. Tirou sua camisa mundana e calças jeans. Colocou sua bota negra, suas luvas e suas ombreiras, guardando a roupa comum na mochila.
- O que as pessoas pensariam se soubessem quem é o Rubro Negro? – Ronaldo estava na entrada do canto sujo e escondido. Estava com sua roupa de Cruz de Malta, sem a máscara. Assim que Arthur pôs a sua, Ronaldo fez o mesmo. Eram Rubro Negro e Cruz de Malta agora.
- O que você vai fazer? – Rubro Negro correu na direção dele.
Cruz de Malta apenas correu para longe também. A perseguição foi demorada. Ambos possuíam grande velocidade e correram pela movimentada Avenida Presidente Vargas, desviando de carros. Os motoristas tiveram dificuldades e logo o trânsito ficou complicado. Alguns carros batiam em postes ou subiam as calçadas. Outros batiam entre si, capotavam. Rubro Negro tentava alcançar Cruz de Malta a todo custo, corria desesperadamente. As coisas estavam ficando feias naquela avenida. Cruz de Malta subiu em um ônibus com um salto e depois se jogou contra o prédio das Industrias Heiner. Rubro Negro saiu da rua, para tentar evitar maiores problemas às pessoas.
Entretanto, o problema maior estava por vir. As pessoas começaram a sair de seus carros. Os pedestres se aglomeravam para ver aquela briga digna de cinema. Cruz de Malta subia o prédio, escalando pelas janelas em direção à cobertura. Rubro Negro decidiu segui-lo e vez os mesmos movimentos. Descobriu que tinha menos capacidades físicas. Seu salto do ônibus para o prédio foi muito difícil, quase que caiu.
Ambos chegaram ao topo do prédio e se encararam. Rubro Negro estava cada vez mais perdido. Ambos correram em direções opostas, saltaram e se chocaram com violência. Um chute de Rubro Negro encaixou no queixo de Cruz de Malta, que por sua vez acertou um soco no peito. Ambos caíram. Rubro Negro constatou o poder de cura de seu adversário vendo a escoriação na boca regenerar. Ambos desferiram uma série de golpes entre si, mas Rubro Negro levou a pior. Cruz de Malta era mais forte e sabia brigar melhor. Rubro Negro, então, foi agarrado e apertado. Cruz de Malta correu com Rubro Negro agarrado e o jogou contra o concreto do terraço do prédio. O vigilante mascarado ficou aturdido, tempo suficiente para seu algoz lhe arrancar a máscara e jogar lá embaixo.
A multidão se aglomerava. Um curioso apontou para a máscara do Rubro Negro que acabara de cair. Houve uma explosão de celulares com câmeras tentando focalizar a luta dos dois. Cruz de Malta ergueu o então agarrado Rubro Negro e o expôs para as pessoas lá embaixo. Rubro Negro, sem sua máscara, olhava para baixo espantado. Preocupava-se com sua identidade secreta e em manter a consciência. Se alguma daquelas câmeras focasse direito, ele estaria acabado.
Rubro Negro se concentrou e disparou seu poder de explosão. Uma grande luz ofuscou todas as lentes e arremessou Cruz de Malta e Rubro Negro lá pra baixo. Cruz de Malta parecia aturdido com a explosão. Rubro Negro estava sentido seus músculos fadigados, mas não foi o suficiente para impedir que se agarrasse no concreto estreito do prédio. Cruz de Malta se chocou no chão, causando um grande buraco. Antes que alguém chegasse muito perto, ele se levantou ainda zonzo e constatou que Rubro Negro não estava mais lá.
Arthur chegou em casa alucinado. Chutou uma cadeira e levou as mãos à cabeça, desesperado. “O que eu vou fazer? Estou perdido! Esse cara pode aparecer pros meus pais, pros meus amigos e...” Num estalo, lembrou que sairia com Sofia naquela noite. Ligou para ela para tentar desmarcar, mas não conseguiu: celular fora de área. Preocupado, Arthur foi aos Arcos da Lapa à noite. Haveria um show e Sofia estaria lá.
No inicio da noite, chegando ao local, ele encontrou muita gente, como era de se esperar. Tentando localizar Sofia pelo celular e pelo contato visual, Arthur tinha uma cara de pânico. Esbarrou com ela sem querer.
- Desculpa o atraso, Sofia, tive alguns problemas.
- Não se preocupe, Arthur. Ei, sabe quem encontrei aqui? O Ronaldo, lembra dele?
Ronaldo aparecia com duas garrafas de cerveja. Entregou uma à Sofia e bebeu da outra.
- Olá, Arthur. Há quanto tempo, heim. – piscou o olho descaradamente.
Arthur o empurrou na hora. Segurou a mão de Sofia e a arrastou dali. Ela ficou confusa, mas o seguiu.
- O que está fazendo, Arthur? – perguntava.
- Precisamos ir. – respondia Arthur, seco.
- Mas vão perder o show – disse Ronaldo, em tom irritantemente irônico.
Os dois se afastaram dos Arcos da Lapa.
- O que está acontecendo, Arthur?
- Ronaldo está esquisito. Eu te explico depois. Vamos sair daqui, eu te levo pra casa.
Pegaram um ônibus. Arthur viu, da janela, Ronaldo de braços cruzados no ponto com um largo sorriso.
- Arthur, me explica!
- Sofia, você confia em mim?
- Bem, sim... – disse receosa.
- Então faça o que eu digo e não me faça perguntas, por favor. – normalmente Sofia se revoltaria com a proposta. Determinada e dona de si, ela insistiria até conseguir o que queria. Mas naquele momento, resolveu aceitar as coisas do jeito de Arthur.
Depois de levá-la em casa, sem maiores problemas, Arthur decidiu que aquele dia tinha que acabar logo. Voltou para casa. Viu sua mãe acordada assistindo televisão na sala. Seu pai já estava dormindo. Depois de uma rápida troca de palavras, o interfone tocou. Arthur gelou. Será que Ronaldo havia descoberto onde ele morava? Atendeu e constatou o pior.
- Olá amigo. Em casa a essa hora? – era ele.
- Ronaldo – percebeu que sua mãe apareceu ao seu lado – bem, vamos conversar amanhã.
- A noite é uma criança, Arthur. Pegue-me se puder. – desligou.
Arthur não teve escolha. Foi para o quarto e vestiu seu uniforme com uma máscara reserva. Foi para a janela e desceu o seu prédio pelo lado de fora. Viu Ronaldo como Cruz de Malta na Rua Voluntários da Pátria. Rubro Negro correu até ele. Era final de noite e os carros começaram a rarear. Foram parar no metrô de Botafogo. Uma vez lá, Cruz de Malta parou de correr. Virou-se contra Rubro Negro e partiu para a briga. Ambos trocaram socos, chutes poderosos. Um golpe errado, acertava uma parede e a destruía. Rubro Negro saltava para trás, tentando evitar o confronto direto, pois Cruz de Malta era mais forte e poderia agarrá-lo de novo. Disparou uma rajada de plasma em cheio em Cruz de Malta, jogando-o contra a parede. Ele fez um grande buraco nela. Um metrô passou por eles e Rubro Negro saltou sobre ele.
- Vem me pegar, seu filho da p...
Cruz de Malta saltou sobre o metrô também. Ambos se ergueram sobre o vagão em movimento e se socaram. Rubro Negro estava mais concentrado, encaixava mais golpes. Entretanto, o poder de regeneração de ambos tornava a luta prolongada demais. Rubro Negro tentava pensar em um jeito para parar todo aquele inferno. O que fazer para impedir Ronaldo? Conversar com alguém insano não era a melhor saída.
Várias estações depois, na Cinelândia, Rubro Negro disparou sua rajada de plasma num momento crucial e o jogou para longe. Saltou sobre Cruz de Malta com os dois pés no peito. Seu adversário voou contra a parede. Sem tempo para reagir, Rubro Negro o imprensou na parede. Com o cotovelo no pescoço, prendeu Cruz de Malta. Com a outra mão, socava seu abdômen, suas costelas. Cruz de Malta ficou aturdido e sentiu algum osso quebrar.
Rubro Negro encostou suas mãos no peito de seu adversário e disparou uma rajada de plasma a queima-roupa. Foi uma grande explosão, que fez a parede ser destruída. Cruz de Malta caiu do outro lado da estação. Ele se levantava, rindo e cuspindo sangue e com sua camisa destruída. A máscara estava em frangalhos também.
- Finalmente lutando que nem homem. Mas você sabe, eu curo meus ferimentos como você. Vamos lutar eternamente. Ou até você morrer.
Rubro Negro correu dali, pela Avenida Rio Branco. Dobrou na Avenida Beira-Mar e seguiu em direção ao Aeroporto Santos Dumont. Cruz de Malta o seguia. De repente, eles ouviram sirenes de polícia. As coisas estavam ficando piores para Rubro Negro. Chegando ao aeroporto, adentrou sem cerimônia. Destruiu a fachada de vidro e entrou na pista de decolagem dos aviões. Cruz de Malta disparou um raio de plasma e jogou Rubro Negro longe, que capotou pela pista. Havia alguns aviões ali, alguns deles prestes a decolar.
Erguendo-se do chão, Rubro Negro não conseguiu desviar de uma joelhada nas costas. Rolou no chão mais uma vez. Olhou para o céu e agradeceu a Deus porque via um avião chegando. Cruz de Malta correu na direção de Rubro Negro, que ainda estava no chão. O agarrou e o apertou. Rubro Negro sentia seus músculos apertados, seus ossos esmagando. Precisava se manter consciente, precisava que seu plano desse certo. Rezava para ninguém sair machucado.
A polícia cercou o aeroporto e impediu qualquer decolagem. Mas não podia impedir o iminente pouso de um avião. Rubro Negro se concentrou e usou toda sua força para se soltar ao agarro de seu adversário. Cruz de Malta se surpreendeu com a força de superação de seu adversário. Rubro Negro correu em direção do avião que vinha.
Cruz de Malta saltou sobre Rubro Negro. O vigilante se jogou no chão e chutou com os dois pés o abdômen de seu adversário, fazendo uma alavanca, o jogando sobre o avião.
Cruz de Malta fez uma careta e foi atingido em cheio bico do avião. Era uma cena terrível. Rubro Negro se levantava com dificuldades se perguntando se havia matado seu rival. Não era isso que ele queria, mas era o único modo de conseguir fazer seu adversário perder a consciência. A velocidade do avião em terra foi diminuindo e Cruz de Malta caiu desacordado na pista.
A polícia fez o cerco. Rubro Negro teve que bater em alguns policiais e destruir uma viatura para fugir. Cruz de Malta, entretanto, fora preso.
No dia seguinte, Arthur via as notícias. Ronaldo estava preso por invasão de pista no Aeroporto Santos Dumont. A polícia o havia encontrado sem camisa, jogado na pista com graves ferimentos. Não se sabia como ele conseguiu sobreviver ao acidente que teve. Ao que tudo indica, ele havia entrado num estado de insanidade amnésica. Quando perguntado, alegava que não se lembrava de nada. Será verdade?
“Consegui vencer meu maior adversário até hoje. Ninguém percebeu que ele era o Cruz de Malta porque seu uniforme tava destruído. Sorte a dele. Azar o meu. Daqui pra frente, terei mais cuidado em tirar minha máscara por aí.”
Segundo Ronaldo, Rubro Negro mudou seu uniforme para um branco com detalhes em vermelho e preto, atrás apenas de publicidade. Mas agora ele teria um encontro com alguém que usasse verdadeiramente as cores brancas e negras. As cores da gangue de Ronaldo.
O jovem largou o peso de cem quilos de lado e andou até a parede de seu quarto, onde encarou as várias fotos de jornal do Rubro Negro em ação. Com um soco, provocou um rombo no concreto, esmagando uma foto.
- Agora é vez do Cruz de Malta.
Rubro Negro estava com seu uniforme original naquela noite fria e chuvosa. Porém, também usava um casaco por cima, porque era um tanto friorento. Ele havia conseguido um novo uniforme costurando ele mesmo os buracos. Levou um dia inteiro, mas foi bem sucedido. Além do mais, estava farto do uniforme branco.
Arrastando o último policial, o jogou sobre os outros três desacordados. Limpou as mãos e caminhou até os alvos daqueles homens da lei.
- Pronto. Esses corruptos não irão mais incomodar trabalhadores como vocês.
- Obrigado, Rubro Negro – um daqueles dois jovens eram repórteres negros de um jornal da comunidade da Favela do Jacarezinho. Eles investigavam um delegado corrupto que recebia propina do jogo do bicho e vendia armas para traficantes da região. Rubro Negro havia insistido e vigiar durante uma semana inteira aquela favela, pois queria achar pistas do paradeiro de Ricardinho. Não havia encontrado nada.
Depois dessa ação, ele sentiu orgulho de si mesmo. A noite já avançava e queria logo voltar para casa. Correndo pelas ruas desertas, não queria perder tempo na parada de ônibus. Correndo ele chegaria mais rápido em casa. Então, recebeu uma mensagem de texto no celular de Sofia. Marcava um encontro na noite seguinte.
“Maravilha, vou poder me desculpar do modo como a tratei aquela vez. Dar em cima descaradamente daquele jeito não é meu estilo, definitivamente.”
Rubro Negro ouviu um barulho de algo chocando em uma lataria. Bufou impaciente, e decidiu averiguar. Dobrou a esquina da Rua São Francisco Xavier com a Rua Luiz de Matos e viu Ronaldo.
Ele estava sobre o teto amassado de um carro. Vestia um casaco negro, fechado, luvas e coturnos negros e calças brancas. Sorria ansioso.
- Ronaldo? O que você tá fazendo aqui? – Rubro Negro não sabia o que esperar. Desde que a mesma fórmula que lhe deu poderes havia sido injetado em Ronaldo, Rubro Negro não sabia seu paradeiro. Não sabia o que esperar.
- A mesma coisa que você, Rubro Negro. Ou se importa se eu te chamar de... Arthur Ribeiro?
Rubro Negro arregalou os olhos, tremendamente assustado.
- Como é que é?
- Ah, você é mesmo um idiota quando quer, não é mesmo, Arthur? Quem diria, um idiota como você é o lendário Rubro Negro – Ronaldo sorria, mal continha sua enorme vontade de rir.
- Como você...?
- O problema é que o Ronaldo aqui não é o mesmo de antes. Depois daquele dia eu resolvi te caçar para o acerto de contas e vi que tu era muito previsível. Era óbvio que voltaria praquela favela. E é óbvio que eu te espionei. Tu foi muito descuidado. Tirou sua máscara num território em que patrulhava, não é mesmo?
- Ronaldo, seu idiota... – Rubro Negro sentia-se envergonhado por ter sido descoberto. Era um orgulho ferido.
- Eu larguei essa vida miserável que era ser Ronaldo. Agora – começou a abrir o zíper frontal de seu casaco negro – eu sou Cruz de Malta.
Ele tinha uma camiseta branca, sem mangas com uma faixa vertical negra e cruzada do ombro até o abdômen. Tirou do bolso do casaco uma máscara metade branca, metade negra. Assim que vestiu, não se conteve e gargalhou.
Rubro Negro não acreditava no que estava acontecendo. Será que Ronaldo havia enlouquecido? Será que ele tinha poderes? Só havia uma forma de saber. Ele correu em direção à Cruz de Malta e saltou sobre o carro, preparando um soco duplo. Cruz de Malta segurou seus dois braços na mesma hora, evitando o soco. O impacto do golpe fez a lataria do teto do carro afundar mais um pouco, fazendo os vidros se quebrarem. Definitivamente, Ronaldo/Cruz de Malta tinha super-força.
- Surpreso? – Cruz de Malta media forças com Rubro Negro, erguendo-o no ar, enquanto o teto do carro era afundado cada vez mais pelo peso de Cruz de Malta e a pressão dos dois.
Rubro Negro estava suando, usando toda sua força para tentar se livrar daquela imobilização. Mas não conseguia. O herói mascarado não parava de se surpreender. Cruz de Malta flexionou os braços, fazendo suas veias sobressaírem. Rubro Negro foi jogado pra cima.
- Parece que eu sou mais forte que você agora, molambo! – Cruz de Malta olhava pra cima, observando o vôo e a queda do Rubro Negro do meio da rua.
- Não conte com isso. – Rubro Negro se erguia e concentrava sua energia de plasma. Cruz de Malta saltou descendo do carro e cruzou os braços a dez metros de distância. Não largava o sorriso do rosto.
Rubro Negro disparou sua rajada de plasma, mas Cruz de Malta desviou para o lado facilmente. E riu daquilo. Rubro Negro já sentia dor de cabeça e enjoou por aquela risada. Cruz de Malta saltou sobre Rubro Negro desferindo um soco em seu rosto, fazendo-o girar no ar e capotar alguns metros no chão. Era um soco muito poderoso.
- Quero ver agora tu usar um dedo para se defender de um soco meu. – Cruz de Malta falava com rancor em sua voz. Aproveitou Rubro Negro no chão e lhe deu um chute na barriga o erguendo do chão. Nesse segundo erguido, Rubro Negro ainda recebeu um soco com as mãos juntas de Cruz de Malta, fazendo sua queda ao chão ser mais dolorosa. Sua cara provocou uma rachadura no asfalto.
Sem tempo de reação, Rubro Negro estava aturdido, sentido o mundo a sua volta girar. Cruz de Malta não parou, pisou em sua cabeça, aumentando a rachadura no asfalto. Rubro Negro lutava para não perder a consciência, então com uma mão segurou a perna de apoio de seu adversário. Fez um puxão, o desequilibrando. Nesse momento, ele rolou para o lado e se levantou do chão. Seu rosto estava com várias escoriações e sangue. Seu poder de cura começava a agir.
- Cruz de Malta, não é? Então é sobre isso que se trata? Uma briga de gangues?
- Se trata sobre eu e você, pequeno Arthur. Sobre tu ferrar com minha vida e minha vingança. Agora eu tenho poder para isso.
- Infelizmente, pra você, eu não vou perder.
Rubro Negro canalizou toda sua energia em suas mãos e disparou uma poderosa rajada de plasma. Cruz de Malta juntou suas duas mãos e disparou uma rajada de plasma idêntica, para a surpresa de Rubro Negro. As duas energias se chocaram, provocando uma poderosa ventania em volta. Os dois poderes se anularam.
- Tu vai me pagar. Mas eu vou aproveitar essa vingança vagarosamente... – Cruz de Malta soltou uma gargalhada e apontou para um ônibus que vinha pela rua. Disparou um raio nele, fazendo tombar. Rubro Negro correu para o ônibus a fim de socorrer as pessoas. Ele ficou aliviado de haver apenas quatro pessoas. As retirou e afastou dali, antes da explosão do ônibus.
Olhando para os lados, não viu mais Cruz de Malta. Rubro Negro estava assustado.
No dia seguinte, Arthur estava sentado em sua cama. Havia dormido poucas horas, pois estava muito preocupado. Ronaldo sabia de sua identidade secreta e possuía poderes. Aquela fórmula injetada realmente lhe garantiu poderes iguais aos dele. Arthur decidiu que iria procurar saber onde estava Ronaldo. Não podia perder mais tempo.
Saindo de casa, pegou um ônibus para a Avenida Presidente Vargas. Uma vez lá, pegaria um ônibus que passasse pela Linha Vermelha. Ele sabia que Ronaldo morava em algum ponto de lá. Sua pesquisa pela internet não lhe foi mais específica que isso.
“Ele pode estar em qualquer lugar. O cara pirou totalmente, só quer saber de vingança. Pode estar me seguindo e eu não vou saber. Que merda, deveria tê-lo jogado na cadeia quando tive chance”.
Arthur desceu do ônibus e foi até um canto sujo e escondido. Havia decidido que era melhor continuar a viagem como Rubro Negro, para ser mais rápido. Era arriscado sair de dia, mas abriria essa exceção nesse momento difícil. Tirou sua camisa mundana e calças jeans. Colocou sua bota negra, suas luvas e suas ombreiras, guardando a roupa comum na mochila.
- O que as pessoas pensariam se soubessem quem é o Rubro Negro? – Ronaldo estava na entrada do canto sujo e escondido. Estava com sua roupa de Cruz de Malta, sem a máscara. Assim que Arthur pôs a sua, Ronaldo fez o mesmo. Eram Rubro Negro e Cruz de Malta agora.
- O que você vai fazer? – Rubro Negro correu na direção dele.
Cruz de Malta apenas correu para longe também. A perseguição foi demorada. Ambos possuíam grande velocidade e correram pela movimentada Avenida Presidente Vargas, desviando de carros. Os motoristas tiveram dificuldades e logo o trânsito ficou complicado. Alguns carros batiam em postes ou subiam as calçadas. Outros batiam entre si, capotavam. Rubro Negro tentava alcançar Cruz de Malta a todo custo, corria desesperadamente. As coisas estavam ficando feias naquela avenida. Cruz de Malta subiu em um ônibus com um salto e depois se jogou contra o prédio das Industrias Heiner. Rubro Negro saiu da rua, para tentar evitar maiores problemas às pessoas.
Entretanto, o problema maior estava por vir. As pessoas começaram a sair de seus carros. Os pedestres se aglomeravam para ver aquela briga digna de cinema. Cruz de Malta subia o prédio, escalando pelas janelas em direção à cobertura. Rubro Negro decidiu segui-lo e vez os mesmos movimentos. Descobriu que tinha menos capacidades físicas. Seu salto do ônibus para o prédio foi muito difícil, quase que caiu.
Ambos chegaram ao topo do prédio e se encararam. Rubro Negro estava cada vez mais perdido. Ambos correram em direções opostas, saltaram e se chocaram com violência. Um chute de Rubro Negro encaixou no queixo de Cruz de Malta, que por sua vez acertou um soco no peito. Ambos caíram. Rubro Negro constatou o poder de cura de seu adversário vendo a escoriação na boca regenerar. Ambos desferiram uma série de golpes entre si, mas Rubro Negro levou a pior. Cruz de Malta era mais forte e sabia brigar melhor. Rubro Negro, então, foi agarrado e apertado. Cruz de Malta correu com Rubro Negro agarrado e o jogou contra o concreto do terraço do prédio. O vigilante mascarado ficou aturdido, tempo suficiente para seu algoz lhe arrancar a máscara e jogar lá embaixo.
A multidão se aglomerava. Um curioso apontou para a máscara do Rubro Negro que acabara de cair. Houve uma explosão de celulares com câmeras tentando focalizar a luta dos dois. Cruz de Malta ergueu o então agarrado Rubro Negro e o expôs para as pessoas lá embaixo. Rubro Negro, sem sua máscara, olhava para baixo espantado. Preocupava-se com sua identidade secreta e em manter a consciência. Se alguma daquelas câmeras focasse direito, ele estaria acabado.
Rubro Negro se concentrou e disparou seu poder de explosão. Uma grande luz ofuscou todas as lentes e arremessou Cruz de Malta e Rubro Negro lá pra baixo. Cruz de Malta parecia aturdido com a explosão. Rubro Negro estava sentido seus músculos fadigados, mas não foi o suficiente para impedir que se agarrasse no concreto estreito do prédio. Cruz de Malta se chocou no chão, causando um grande buraco. Antes que alguém chegasse muito perto, ele se levantou ainda zonzo e constatou que Rubro Negro não estava mais lá.
Arthur chegou em casa alucinado. Chutou uma cadeira e levou as mãos à cabeça, desesperado. “O que eu vou fazer? Estou perdido! Esse cara pode aparecer pros meus pais, pros meus amigos e...” Num estalo, lembrou que sairia com Sofia naquela noite. Ligou para ela para tentar desmarcar, mas não conseguiu: celular fora de área. Preocupado, Arthur foi aos Arcos da Lapa à noite. Haveria um show e Sofia estaria lá.
No inicio da noite, chegando ao local, ele encontrou muita gente, como era de se esperar. Tentando localizar Sofia pelo celular e pelo contato visual, Arthur tinha uma cara de pânico. Esbarrou com ela sem querer.
- Desculpa o atraso, Sofia, tive alguns problemas.
- Não se preocupe, Arthur. Ei, sabe quem encontrei aqui? O Ronaldo, lembra dele?
Ronaldo aparecia com duas garrafas de cerveja. Entregou uma à Sofia e bebeu da outra.
- Olá, Arthur. Há quanto tempo, heim. – piscou o olho descaradamente.
Arthur o empurrou na hora. Segurou a mão de Sofia e a arrastou dali. Ela ficou confusa, mas o seguiu.
- O que está fazendo, Arthur? – perguntava.
- Precisamos ir. – respondia Arthur, seco.
- Mas vão perder o show – disse Ronaldo, em tom irritantemente irônico.
Os dois se afastaram dos Arcos da Lapa.
- O que está acontecendo, Arthur?
- Ronaldo está esquisito. Eu te explico depois. Vamos sair daqui, eu te levo pra casa.
Pegaram um ônibus. Arthur viu, da janela, Ronaldo de braços cruzados no ponto com um largo sorriso.
- Arthur, me explica!
- Sofia, você confia em mim?
- Bem, sim... – disse receosa.
- Então faça o que eu digo e não me faça perguntas, por favor. – normalmente Sofia se revoltaria com a proposta. Determinada e dona de si, ela insistiria até conseguir o que queria. Mas naquele momento, resolveu aceitar as coisas do jeito de Arthur.
Depois de levá-la em casa, sem maiores problemas, Arthur decidiu que aquele dia tinha que acabar logo. Voltou para casa. Viu sua mãe acordada assistindo televisão na sala. Seu pai já estava dormindo. Depois de uma rápida troca de palavras, o interfone tocou. Arthur gelou. Será que Ronaldo havia descoberto onde ele morava? Atendeu e constatou o pior.
- Olá amigo. Em casa a essa hora? – era ele.
- Ronaldo – percebeu que sua mãe apareceu ao seu lado – bem, vamos conversar amanhã.
- A noite é uma criança, Arthur. Pegue-me se puder. – desligou.
Arthur não teve escolha. Foi para o quarto e vestiu seu uniforme com uma máscara reserva. Foi para a janela e desceu o seu prédio pelo lado de fora. Viu Ronaldo como Cruz de Malta na Rua Voluntários da Pátria. Rubro Negro correu até ele. Era final de noite e os carros começaram a rarear. Foram parar no metrô de Botafogo. Uma vez lá, Cruz de Malta parou de correr. Virou-se contra Rubro Negro e partiu para a briga. Ambos trocaram socos, chutes poderosos. Um golpe errado, acertava uma parede e a destruía. Rubro Negro saltava para trás, tentando evitar o confronto direto, pois Cruz de Malta era mais forte e poderia agarrá-lo de novo. Disparou uma rajada de plasma em cheio em Cruz de Malta, jogando-o contra a parede. Ele fez um grande buraco nela. Um metrô passou por eles e Rubro Negro saltou sobre ele.
- Vem me pegar, seu filho da p...
Cruz de Malta saltou sobre o metrô também. Ambos se ergueram sobre o vagão em movimento e se socaram. Rubro Negro estava mais concentrado, encaixava mais golpes. Entretanto, o poder de regeneração de ambos tornava a luta prolongada demais. Rubro Negro tentava pensar em um jeito para parar todo aquele inferno. O que fazer para impedir Ronaldo? Conversar com alguém insano não era a melhor saída.
Várias estações depois, na Cinelândia, Rubro Negro disparou sua rajada de plasma num momento crucial e o jogou para longe. Saltou sobre Cruz de Malta com os dois pés no peito. Seu adversário voou contra a parede. Sem tempo para reagir, Rubro Negro o imprensou na parede. Com o cotovelo no pescoço, prendeu Cruz de Malta. Com a outra mão, socava seu abdômen, suas costelas. Cruz de Malta ficou aturdido e sentiu algum osso quebrar.
Rubro Negro encostou suas mãos no peito de seu adversário e disparou uma rajada de plasma a queima-roupa. Foi uma grande explosão, que fez a parede ser destruída. Cruz de Malta caiu do outro lado da estação. Ele se levantava, rindo e cuspindo sangue e com sua camisa destruída. A máscara estava em frangalhos também.
- Finalmente lutando que nem homem. Mas você sabe, eu curo meus ferimentos como você. Vamos lutar eternamente. Ou até você morrer.
Rubro Negro correu dali, pela Avenida Rio Branco. Dobrou na Avenida Beira-Mar e seguiu em direção ao Aeroporto Santos Dumont. Cruz de Malta o seguia. De repente, eles ouviram sirenes de polícia. As coisas estavam ficando piores para Rubro Negro. Chegando ao aeroporto, adentrou sem cerimônia. Destruiu a fachada de vidro e entrou na pista de decolagem dos aviões. Cruz de Malta disparou um raio de plasma e jogou Rubro Negro longe, que capotou pela pista. Havia alguns aviões ali, alguns deles prestes a decolar.
Erguendo-se do chão, Rubro Negro não conseguiu desviar de uma joelhada nas costas. Rolou no chão mais uma vez. Olhou para o céu e agradeceu a Deus porque via um avião chegando. Cruz de Malta correu na direção de Rubro Negro, que ainda estava no chão. O agarrou e o apertou. Rubro Negro sentia seus músculos apertados, seus ossos esmagando. Precisava se manter consciente, precisava que seu plano desse certo. Rezava para ninguém sair machucado.
A polícia cercou o aeroporto e impediu qualquer decolagem. Mas não podia impedir o iminente pouso de um avião. Rubro Negro se concentrou e usou toda sua força para se soltar ao agarro de seu adversário. Cruz de Malta se surpreendeu com a força de superação de seu adversário. Rubro Negro correu em direção do avião que vinha.
Cruz de Malta saltou sobre Rubro Negro. O vigilante se jogou no chão e chutou com os dois pés o abdômen de seu adversário, fazendo uma alavanca, o jogando sobre o avião.
Cruz de Malta fez uma careta e foi atingido em cheio bico do avião. Era uma cena terrível. Rubro Negro se levantava com dificuldades se perguntando se havia matado seu rival. Não era isso que ele queria, mas era o único modo de conseguir fazer seu adversário perder a consciência. A velocidade do avião em terra foi diminuindo e Cruz de Malta caiu desacordado na pista.
A polícia fez o cerco. Rubro Negro teve que bater em alguns policiais e destruir uma viatura para fugir. Cruz de Malta, entretanto, fora preso.
No dia seguinte, Arthur via as notícias. Ronaldo estava preso por invasão de pista no Aeroporto Santos Dumont. A polícia o havia encontrado sem camisa, jogado na pista com graves ferimentos. Não se sabia como ele conseguiu sobreviver ao acidente que teve. Ao que tudo indica, ele havia entrado num estado de insanidade amnésica. Quando perguntado, alegava que não se lembrava de nada. Será verdade?
“Consegui vencer meu maior adversário até hoje. Ninguém percebeu que ele era o Cruz de Malta porque seu uniforme tava destruído. Sorte a dele. Azar o meu. Daqui pra frente, terei mais cuidado em tirar minha máscara por aí.”
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