quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Rubro Negro #15 - Os Quatro Sinistros: Parte 2


Acabava a aula da noite, Sofia se dirigia para o estacionamento.

- Olá, donzela. – era Júlio Pagotto vestindo um sobretudo preto. A noite estava esfriando. Sofia se deparou com uma situação esquisita e sorriu constrangida, enquanto girava a chave do carro.

- Gostaria de chamá-la para assistir uma peça alternativa sobre um cavaleiro medieval. – ele sorria. Júlio era conhecido por ser fanático por história medieval.

- Não, obrigada. Tenho que ir pra casa agora. – evasiva, tentando ser amigável, entrou no seu carro.

- Então, numa outra oportunidade, talvez? – Julio quase esfregava sua cara na janela do carro.

Sofia não disse nada, não sabia qual seria a reação daquele garoto estranho. Deu a partida e foi embora.

- Gente maluca... – disse, enquanto pensava onde estaria Arthur.

Rubro Negro corria para a calçada desviando de seus próprios raios de plasma atirados pelo Copiador. Ele não tinha a menor chance sem seus poderes e sentia seu ferimento na barriga formigar. Lorde Mágiko apontou seu cajado e um feixe de luz esverdeado atingiu o vigilante mascarado em cheio. Pra sua sorte, era um raio paralisante. Rubro Negro estava preso e não tinha qualquer chance de reação sem sua super-força.

- Por que não revida, Rubro Negro? O que aconteceu com você? – Ciborgue Titânio se aproximou calmamente e desferiu um soco pesado que fez o ferimento na barriga abrir totalmente e jorrar sangue.

- Mas o que é isso? – Ciborgue agarrou Rubro Negro pela camisa, erguendo-o do chão facilmente. Com outra mão, arrancou-lhe a máscara. Todos olharam para o jovem Arthur quase inconsciente.

- O que é isso? O Rubro Negro é esse garoto? – Copiador aparecia em sua forma original, vestes negras com uma máscara aberta só aos olhos. Estava intrigado.

“Eu perdi. E pior ainda, fui desmascarado. Droga!” Arthur estava desesperado, olhos lacrimejantes perante sua morte iminente. Lorde Mágiko caminhou até ele com seu cajado com uma lâmina na ponta, pronto para atravessar o crânio do jovem Arthur.

- Pare com isso. Você é tão lunático que não percebeu o óbvio? – Ciborgue afastava Lorde Mágiko com uma das mãos biônicas – Ele não é o Rubro Negro.

- Não sou? – Arthur arregalou os olhos, uma vã esperança.

- Pensem em seu desempenho ridículo aqui esta noite. Na última vez que enfrentei o Rubro Negro ele estava poderoso, ágil, formidável. – Ciborgue colocava a mão no queixo pensativo.

- Então ele é apenas um rapaz numa fantasia de carnaval ridícula. Por isso tá todo ferrado aí. – decretou Diabo.

Em outro lugar, num apartamento em Jacarepaguá, Ricardinho desligava o telefone extremamente irritado. Acabava de saber que seus comandados tinham pegado um garoto qualquer.

- E agora, Ricardinho? – João Barreto estava assustado com a represália que poderia vir dos chefes do traficante.

- Eles não vão me perdoar se é isso que tem medo. Aqueles riquinhos irão me derrubar e colocar outro do morro ao lado no meu lugar. Mas eu vou acabar com eles antes. Vou aproveitar que Michael Flandres está no Rio e vou dar um golpe para assumir seus negócios. Assim ficarei de pé de igualdade com os outros. E pra isso, vou usar os meus quatro capangas...

João Barreto sorria enquanto enxugava o suor da testa.

Arthur aproveitou o engano de Ciborgue Titânio e continuou a história. Estava desesperado, mas tentava controlar sua ansiedade para que todos acreditassem em sua história. Disse que ele pertencia a uma gangue que tinha o Rubro Negro como ídolo e por isso ele havia decidido se fantasiar como ele. Por pura admiração e tentativa de ganhar prestígio. A história colou facilmente em Diabo e Copiador.

Lorde Mágiko estava descrente, pois ele achava a voz de Arthur muito parecida com Rubro Negro. O mágico era o único que odiava de verdade o Rubro Negro e por isso prestou mais atenção nele, em seu jeito, sua voz. Entretanto, Ciborgue Titânio estava satisfeito com a explicação, mesmo que não fosse verdade. Afinal, no alto grau de insanidade, ele acreditava que era um cientista e só precisava do dinheiro para financiar suas pesquisas.

Logo, o telefone de Ciborgue Titânio tocou. Era Ricardinho dando novas ordens. Então, Arthur percebeu que os quatro super-vilões não estavam numa cruzada contra ele. Foram financiados para isso. Ficou muito curioso para saber quem tava por trás disso.

Súbito, o cientista louco desligou o celular e disse para largarem Arthur em qualquer lugar. Diabo estalou os dedos e socou o jovem até ele perder a consciência, o que não demorou muito. Jogado em uma lata de lixo perto da Praça da República. A noite ainda seria longa.

No Hotel Arpoador, na rua Visconde de Pirajá, um homem vestindo ternos negros e óculos escuros – em plena noite – passava reconhecido pela segurança particular do empresário que estava hospedado. Subindo o elevador, foi até o apartamento de luxo onde Michael Flandres estava hospedado. Uma vez lá, não hesitou em usar uma chave especial para abrir a porta. Surpreendido, Michael Flandres estava com roupas debaixo e duas prostitutas na cama.

- Que diabos? Que invasão é essa, senhor Donovan? – o americano tentava pegar uma arma que estava numa gaveta do criado-mudo ao lado da cama.

- Senhor Flandres, estamos sob ataque! É o Ricardinho! – Donovan ia até o armário de Flandres e pegava uma roupa. – Se vista, senhor!

Súbito, eles ouviram uma explosão do lado de fora, na entrada do hotel. Olhando pela janela eles puderam ver Lorde Mágiko com seu cajado soltando fumaça, recém havia disparado um laser. Diabo e Ciborgue Titânio estavam derrubando os seguranças locais. Olharam para cima e Flandres deu um salto pra trás.

- Vamos embora daqui!

Donovan e Flandres correram para as escadas e subiram. Donovan havia dito que um helicóptero os aguardava para a fuga. Chegando lá, entretanto, Donovan riu e mudou de forma. Era o Copiador disfarçado.

- Você achou que poderia ficar aqui no território de Ricardinho livremente? Agora ele irá tomar o seu lugar. Que vergonha. Um homem como você, rico e poderoso, derrubado por um traficante do Brasil.

Copiador riu bastante e empurrou para homens de Ricardinho que o levaram para o helicóptero a força. Nisso, Copiador se transformou em Michael Flandres. E desceu as escadas. Lorde Mágiko, Diabo e Ciborgue Titânio subiram deixando um rastro de terror naquele hotel e entraram também no helicóptero.

Copiador com a forma de Flandres, avisou a todos seus comandados que deveriam ir embora dali o mais rápido possível, pegar o primeiro vôo pros Estados Unidos. Depois ligou para os outros chefes e empresários que comandavam Ricardinho e avisou que estava pulando fora dos negócios escusos. Ricardinho iria assumir seu lugar.

No helicóptero, Ricardinho sorria batendo palmas.

- É verdade que não consegui pegar o Rubro Negro. Mas peguei você, gringo. Agora com seus recursos eu vou ficar mais poderoso. Vou poder pegar o Rubro Negro de fato.

Uma risada se sucedeu sobre o encolhido e acuado americano.

Enquanto isso, Arthur abria os olhos. Ele se lembrava que havia sido espancado para perder a consciência, mas acordou sem dores alguma. Olhou para o ferimento na barriga e viu que não tinha nada ali. Saiu do lixo e cerrou os punhos com a constatação de que seus poderes haviam voltado – pelo menos por hora.

- Agora é minha vez de dar o troco!

Correndo pelas ruas, saltando até ganhar a altura dos prédios, ele sentia-se vivo novamente com seu poder fluindo pelo seu corpo. Foi quando viu várias viaturas de polícia seguindo para zona sul. E resolveu seguir.

Depois de um tempo, ele constatou que o Hotel Arpoador em Ipanema havia sido atacado por três super-vilões. Ele percebeu que o Copiador realmente tinha sua participação bastante oculta. Observando no alto de um prédio maior, ele viu um helicóptero. Batia com a descrição que ouvira da polícia quando os seguiu.

Rangendo os dentes, ele concentrou grande quantidade de energia de plasma nas mãos e disparou uma rajada cumprida, mas para passar ao lado do helicóptero. Ele queria denunciar sua presença. No helicóptero, Ricardinho olhou para a janela e viu um ponto luminoso sobre um prédio.

- É o Rubro Negro de verdade! Vão atrás dele! – ordenou o traficante.

O helicóptero pousou sobre um prédio distante e Diabo, Ciborgue Titânio e Lorde Mágiko desceram ansiosos para lutarem como o verdadeiro Rubro Negro.

- Então você está aqui de verdade. – Rubro Negro olhou para trás, subitamente e viu o Copiador em seu traje negro. Eles estavam ainda sobre o terraço do Hotel Arpoador.

- Sim. Eu soube que bateram num garoto de gangue, né? Que tal agora enfrentar alguém do seu tamanho?

Rubro Negro apressou o passo e investiu num ataque rápido com o cotovelo acertando o nariz de Copiador. Desequilibrando, antes que pudesse cair Rubro Negro continuou com um chute de baixo pra cima, acertando o peito do Copiador. O vilão saiu do chão, tamanha a força do golpe. Ainda no ar, Rubro Negro completou sua seqüência veloz com um soco com as duas mãos juntas, de cima pra baixo como uma martelada. Copiador sentiu dentes quebrarem antes mesmo te bater sua cara no chão desacordado.

- Menos um. – Rubro Negro não usou seu poder de plasma, pois sabia que podia ser copiado facilmente. Ele havia entendido que poderes energéticos eram mais facilmente copiados pelo Copiador. Com menos um adversário, os outros três que chegavam perdiam grande poder de fogo.

Dentro do helicóptero, Ricardinho observava a aproximação de seus três comandados.

- Assista a derrota do Rubro Negro, Michael Flandres. Assim terei a autoridade para legitimar meu controle sobre seus negócios aqui no Rio. – Ricardinho era todo sorriso e confiança.

- Por quê? Por que me ameaçar assim? Você já tem o que quer! – choramingava o gringo, com forte sotaque.

- Eu tenho a migalha que vocês me dão. Empresários ricos, estrangeiros, acham que vou me contentar em ficar fora da lei e ser seu joguete? Aquele que suja as mãos por vocês? Pois o que eu quero é o mesmo que vocês. Poder roubar dentro da lei.

Rubro Negro recebeu com um chute com os dois pés juntos no peito de Diabo, assim que ele chegou ao terraço do Hotel Arpoador. Ciborgue Titânio ficou distante, mas esticou seus braços para atingir e jogar o herói mascarado pra longe. Rolando, antes de se recuperar, Lorde Mágiko disparou um raio laser que acertou as costas de Rubro Negro.

- Isso é tudo? – Rubro Negro se erguia limpando suas roupas, um gesto de menosprezo ao ataque de seus inimigos. Seus ferimentos sumiam na velocidade normal. Ele tinha todos seus poderes ainda.

Rubro Negro disparou uma rajada de plasma que jogou Diabo para longe, mantendo ele distante, pois sabia que era o único com força física suficiente para fazer frente a ele. Ciborgue aproximou-se novamente tentando acertar seu adversário com seus braços biônicos esticados em quase cinco metros. Mas a agilidade de Rubro Negro estava no auge. Desviando para os lados usando acrobacias, ele tentou se aproximar de Lorde Mágiko. O mago fez a lâmina de seu cajado aparecer e estocou a perna do herói mascarado. Sangue jorrou rapidamente.

- Ainda com essa faquinha? – Rubro Negro segurou o cajado de Lorde Mágiko e puxou para perto, aumentando o ferimento da lâmina. Próximo o bastante, Lorde Mágiko viu o herói mascarado quebrar seu cajado no meio e ainda recebeu um soco no queixo. Ele era um homem comum, com equipamentos tecnológicos que davam a ilusão mágica. Por isso não agüentou o soco poderoso de Rubro Negro e perdeu a consciência.

- Agora só faltam... – antes de terminar sua frase inspiradora, uma bravata que iria elevar seu moral sobre seus adversários, Diabo surgiu dando um encontrão no herói mascarado. Ele foi arremessado e caiu do terraço.

A queda foi dolorosa. Antes de se levantar, ainda sentido a dor da queda, Rubro Negro sentiu o peso do Diabo caindo sobre si com uma cotovelada. O golpe foi terrível e o herói mascarado cuspiu sangue.

- É o seu fim, Rubro Negro!

Diabo ficou sobre o herói e desferiu vários socos poderosos em seqüência. Repetidamente, o herói mascarado era golpeado no rosto sem poder reagir e, cada vez menos, tinha poder de reação. Os punhos de Diabo já estavam cobertos de sangue.

Ciborgue Titânio desceu do terraço usando seus braços biônicos e se aproximou do massacre. Sorria levemente já pensando no dinheiro que iria ganhar pelo trabalho concluído. Porém, Rubro Negro, entre um dos socos, mostrou um sorriso e explodiu.

Sua energia de plasma explodiu em sua volta acertando Diabo e Ciborgue Titânio. Ambos foram jogados muito longe. As pessoas daquela rua começaram a sumir rapidamente e a polícia já estava cercando o quarteirão. Era procedimento padrão esperar o embate de super-seres acabar antes de agir.

Levantando-se com dificuldade, Rubro Negro via o mundo girar à sua volta. Olhou para os lados e viu que Ciborgue Titânio e Diabo estavam desacordados. Aquela explosão havia sido muito poderosa. Mas exaurido ao máximo também. A policia começou a se aproximar lentamente com gritos de rendição. Para Rubro Negro inclusive. Ele olhou para cima e viu o helicóptero ainda sobrevoando o local, mas não tinha forças para fazer nada. E se demorasse muito, seria preso também. Então caminhou se arrastando até um bueiro onde desceu aos esgotos e sumiu.

Arthur acordou de manhã. Era um sábado e ele se sentia ótimo. Havia chegado em casa poucas horas antes de amanhecer e tomou um banho demorado para se limpar das sujeitas do esgoto. Agora estava novo em folha e ainda com seus poderes. Aproveitou o dia para ver Sofia para ver um filme no cinema e lancharem depois.

De noite, ele estava como Rubro Negro novamente, comendo seu habitual sanduíche de procedência duvidosa no topo de um prédio da Avenida Presidente Vargas. Tudo estava em ordem, até que ele viu alguém abrir a porta que dava acesso ao terraço. Era ninguém menos que Jéssica Cunha, a esposa de Rodolfo Pilar, o homem que Rubro Negro enfrentou como Ogum.

- Rubro Negro, precisamos conversar. – Decisiva e séria.

- Nossa, quanto tempo. O doutor Pilar acha que agora é Zeus ou algo assim?

Ela fez uma careta repressora.

- Você tem passado momentos difíceis? – direta.

- Defina “difíceis”, doutora.

- Você tem se sentido mais fraco, seus poderes se tornaram inconstantes?

Rubro Negro arregalou os olhos e seu coração palpitou mais forte. O que será que estava acontecendo? Como ela sabia disso?

- Sim, na verdade aconteceu ontem e anteontem. Hoje me sinto forte o dia inteiro. Mas como sabe disso, doutora? Virou médica?

- Acontece que eu descobri a origem de seus poderes. E por isso sei o que acontece com eles e o que vai acontecer.

Rubro Negro se aproximou dela lentamente.

- Como assim? – ele parecia desconfiado do que estava prestes a ouvir. Se ela sabia tanto sobre ele, talvez estivesse metida com coisas erradas.

- O professor Gabriel Soares é o homem que criou o soro que garantia esses poderes que você tem a um ser humano. Acontece que a fórmula que ele desenvolveu não se baseia puramente em ciência. – ela falava pausadamente, o que aumentava a ansiedade do Rubro Negro por cada palavra.

- Não é puramente um experimento biológico? O que está tentando me dizer, doutora?

- Recentemente, em uma conferência, o professor Eduardo Acco veio até mim. No começo achei estranho um doutor em genética numa conferência sobre historiadores. Mas ele explicou a verdade sobre a fórmula que ele descobriu do Gabriel Soares. Que ele também havia usado de conhecimento sobre ocultismo para fazer o soro.

- Ocultismo? Tipo magia?

- Sim, mais ou menos. Estou certa que existe a magia, uma força sobrenatural que está sutilmente impregnada no mundo. E você foi um alvo mais visível dessa magia. Por isso ninguém conseguia repetir a fórmula que Gabriel Soares criou. Somente Eduardo Acco conseguiu, porque justamente descobriu esse ingrediente sobrenatural.

- Que ingrediente é esse? – Rubro Negro estava bastante confuso.

- Eu não sei. Ele não quis me contar. Apenas disse que não existe mais. Mas também não sei se estava mentindo.

- E o que ele ganha com isso? Porque ele te disse isso tudo? Porque você está contando pra mim?

- Ele me disse por que sabia que eu já tive um contato com você. E também porque não queria se envolver e arriscar a vida como da ultima vez. E eu estou te contando a pedido dele. Porque parece que a perda de seus poderes nesses dias é parte de um processo de transformação que ficou acelerado devido ao seu uso contínuo de suas rajadas de plasma e o poder regenerativo.

Rubro Negro estava processando as ideias. Então seus poderes eram de alguma forma sobrenaturais e Eduardo Acco sabia que eles estavam modificando naquele momento.

- Transformando em que? – Ele perguntava com medo da resposta.

- Certamente em algo não humano...