sábado, 31 de julho de 2010

Ficha de Mutantes e Malfeitores Atualizada

Rubro Negro

Nível de Poder: 8 (120 pp)

Atributos: FOR 24/10, DES 24/10, CON 24/10, INT 12, SAB 10, CAR 12.

Salvamentos: Resistência +7 (+4 impenetrável), Fortitude +7, Reflexos +8, Vontade +4

Perícias: Acrobacia 2 (+9), Arte da Fuga 2 (+9), Blefar 4 (+5), Conhecimento [História] 2 (+3), Furtividade 4 (+11), Idiomas [inglês, base: português], Intimidar 2 (+3), Intuir Intenção 2 (+2), Notar 4 (+4), Obter Informação 4 (+5), Procurar 4 (+5), Profissão [professor] 1 (+1)

Feitos: Ação em Movimento, Ataque Dominó 2, Ataque Imprudente, Ataque Poderoso, Blefe Acrobático, Evasão.

Poderes:
Velocidade 1 (30m)

Força Ampliada 14 (Feito de Poder: Foco em Ataque [corpo-a-corpo] 5)
Destreza Ampliada 14 (Feito de Poder: Foco em Esquiva 5)
Constituição Ampliada 14

Raio de Plasma 10 (Feito de Poder: Acurado, Falha: ação completa)
Poder Alternativo: Raio de Plasma 10 (Extra: Área Estouro, Falha: ação completa, cansativo)

Resistência Impenetrável 4
Regeneração 11 (machucado 2 [ação padrão], ferido 3 [minuto], abatido 2 [cinco minutos], desabilitado 4 [cinco minutos])

Combate: ataque +4, defesa +4; agarrar +11; Desarmado (ataque +9, dano 22), raio de plasma (ataque +6, dano 25), Defesa 19 (12 surpreso), Iniciativa +7, Deslocamento 30m.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Rubro Negro #13 - Episódio Final - O Dia do Copiador


No aeroporto Santos Dumont, à noite, um avião chegava trazendo um passageiro singular. Cabelos curtos, raspados, olhos castanhos, barba rala. Traços árabes. Vestia camisa branca de botão e um casaco marrom por cima. Obviamente não estava preparado para o calor do Rio de Janeiro. Assim que desembarcou, foi surpreendido por uma mulher armada e outros homens. Todos vestiam roupas militares, mas com traços diferentes. As pessoas se assustaram e abriram caminho.
- Parado aí. Não tente nenhuma gracinha. – a mulher apontou seu fuzil para o árabe. Os outros mostraram suas armas apontadas. Ninguém entendia nada. Então, o homem sorriu e apertou um botão em sua mala. Um projétil metálico de 30 centímetros foi disparado e atingiu o chão em volta daqueles homens armados. Uma grande fumaça os deixou surpreendidos.
- Não deixem ele escapar! – gritava a mulher, em vão.
Correndo, o árabe subiu as escadas. Aproveitou a fumaça que se espalhava para sua furtividade. Subitamente, aparência se modificou. Ele não era mais um árabe, mas um homem de pele negra e cabelo raspado com roupas de taxista. Desceu pelas escadas pelo outro lado do aeroporto e foi até um táxi. O abriu e deu partida, sob protestos do dono que estava vendo a confusão dentro do aeroporto.
- Ele não foi muito longe. Chame o furgão. – a mulher disparava ordens ao seu comunicador portátil preso à cabeça, um ponto no ouvido e um microfone.

Rubro Negro estava na Avenida Presidente Vargas, seu local favorito para patrulhar. Sempre tinha um grupo de palhaços que insistiam em assaltar por ali ou uns policiais que vendiam drogas. Entretanto, ele viu um táxi desgovernado e perseguido por um furgão negro e sem identificações.
- Isso vai dar merda.
Rubro Negro correu pela rua e cortou por um atalho. Viu o táxi passar à sua frente e se jogou no teto. O motorista se assustou e quase perdeu o controle do carro e acabou dobrando na Avenida Trinta e Um de Março em direção ao Sambódromo.
- O carnaval é só ano que vem. Diminui aí! – disse Rubro Negro, mostrando sua cara pela janela do carona. Antes que o motorista pudesse responder, os homens no furgão logo atrás surgiram das janelas com fuzis. Atiraram pelo carro inteiro. Rubro Negro foi atingido no braço, mas ignorando sua dor, pegou o motorista pela gola da camisa e com um puxão, o tirou do táxi. Ele saltou para a rua usando sua força para controlar a queda e cair de costas para proteger o motorista. O carro continuou seu percurso e bateu numa loja fechada. Havia uma pequena multidão se aglomerando em volta dos dois. O furgão dobrou a esquina, aparentemente indo embora.
- Tu tá bem, cara? – Rubro Negro se erguia do chão colocando as mãos nas costas raladas. As pessoas à volta se dividiam entre vaiar e aplaudir o vigilante mascarado.
O homem saiu entre a multidão correndo e atravessou a rua sem dar nenhuma explicação. Rubro Negro tentou segui-lo, mas o perdeu de vista.
“Como ele pôde ter corrido tão rápido assim? E quem eram aqueles que o perseguiam?” Com essas dúvidas na cabeça, Rubro Negro encerrou suas atividades naquela noite.

No dia seguinte, Arthur saía de sua aula no Fundão já sonhando com o retorno das obras do IFCS quando viu Sofia lendo um livro, sentada enquanto bebia um refrigerante. Ele se sentou ao lado dela com um sorriso largo.
- Bom dia, mocinha. – tentava ser agradável, sabendo que ela ainda estava brava com ele.
- Oi. – Disse ela, seco.
- Sei que tu tá irritada comigo, mas...
- Não tô nada. Não me importo. – séria a cada palavra. Arthur engoliu seco.
- Olha, eu sei que fiz besteira e...
- Se sabe, então por que está aqui falando comigo? – ela virou o rosto para ele, irritada.
- Porque eu quero consertar as coisas. Mas existem certas coisas que não posso falar e...
- Então, nem perca seu tempo. – Sofia se levantou decidida e saiu pisando firme. Pegou seu carro mini-coopper esverdeado e foi embora. Arthur deu um tapa na própria testa.

À tarde, Arthur saiu do Fundão e se dirigiu para a Biblioteca Nacional por sua leitura em dia. Sentia bastante preguiça naquele meio de período na faculdade, mas não podia bobear, pois as provas estavam chegando. Passou por uma loja onde vendiam televisões de alta tecnologia e acabou vendo a notícia de que os líderes da América Latina se reuniriam naquela noite num grande evento social. No dia seguinte, os líderes do Mercosul iriam se reunir na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.
“Que beleza, heim. Presidentes vão falar um monte de baboseiras inúteis. Nunca irão pensar nas questões populares mesmo. Vão decidir quais melhores meios de seus mercados evoluírem...”
Nesses pensamentos, Arthur entrou na Biblioteca. Á noite, vestiu seu traje de Rubro Negro e subiu no alto do prédio da Embratel. Foi então que ouviu um barulho de motor se aproximando do céu. Olhou e viu um homem trajando uma armadura azulada que cobria todo seu corpo com asas metálicas que pareciam de um jato. Ele pousou há poucos metros de Rubro Negro. Seu capacete parecia de um piloto de caça.
- Saudações, Rubro Negro. – dizia uma voz abafada por meios eletrônicos. Antes que ele falasse alguma coisa, o homem continuou.
- Eu sou Alpha Azul, membro da Ação Secreta de Proteção, a ASP. Tenho um assunto para tratar com você, o vigilante do Rio de Janeiro.
- Nossa, desde quando agências secretas vêem falar comigo assim? E desde quando alguém acha que eu não sou um bandido? – Rubro Negro estava desconfiado. Naquele ano ele havia enfrentado tantos homens trajando roupas diferentes com habilidades diferentes, mas que tinham algo em comum: eram loucos ou criminosos.
- Entendo sua desconfiança. A mídia e uma parcela da população não gostam de você. Mas nós monitoramos suas ações desde o seu início, ano passado. Não usamos os jornais para fazer juízo de seu caráter. Sabemos que tem boas intenções. – Rubro Negro ficou sem palavras, desviando o olhar, mas agora por timidez.
- Continuando. Como você deve estar sabendo, os líderes do Mercosul irão se reunir amanhã de manhã para selar acordos que serão de benefício para seus países. Inclusive o Brasil. Daí nós entramos.
- Espera aí. Vocês são de uma agência brasileira? Difícil acreditar...
- Nós somos internacionais, agimos em todos os países e eu sou o representante brasileiro. Nossa jurisdição é global. Mas intervimos onde há ação de super-seres e outros assuntos sobrenaturais. No Rio de Janeiro, nós não intervimos porque acreditamos que você e outros estão fazendo bem o serviço de manter a vida social dentro da normalidade.
- Outros? Existem outros malucos como eu com máscaras e super poderes?
- Isso não é importante. O que importa é que hoje nós precisamos de sua ajuda. Chegou ao aeroporto hoje de manhã um homem com um grande poder sobrenatural. Ele é conhecido pelo submundo internacional como o Copiador. Seu poder é de copiar super-poderes. Ele é um mercenário perigoso e quer dar um fim à vida dos presidentes latino-americanos.
- E como eu posso ajudar nisso, afinal?
- Ele deve estar nessa reunião social hoje a noite e tentará fazer alguma coisa. Nossos equipamentos se demonstraram ineficazes em detectar sua presença. Ele é invisível às máquinas, por isso precisamos que você o vigie o prédio em que acontecerá o evento.
- E se eu o vir? Eu salto em cima dele?
- Não faça nada, apenas nos chame.
- E onde você estará?
Alpha Azul ficou uns segundos em silêncio antes de responder.
- Segredo. – mais irônico impossível.
Rubro Negro recebeu um botão que prendeu no peito. Bastava apertar que ligaria um sinal e chamaria Alpha Azul. Ele ainda pediu uma carona para voar até o Copacabana Palace Hotel, onde estavam os líderes do Mercosul, mas Alpha Azul disse que era melhor manter a furtividade e que ele chamava muita atenção voando.
Dando de ombros, Rubro Negro foi correndo mesmo.

As horas se passavam e Rubro Negro ficou absorvendo as informações que recebeu de Alpha Azul. “Então, quer dizer que existem outros super-seres além dos que eu já combati? Esse mundo está cada vez mais louco. E quem serão esses caras com super-poderes que também são heróis? Como conseguem se manter no anonimato nesses dias.” Pegou um jornal velho e viu sua foto, a luta contra o Cruz de Malta, meses atrás. A manchete não era nada interessante: “Aberrações destroem centro da cidade”.
Súbito, ele viu em cima de um prédio da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, um homem trajando roupas negras, jaqueta de couro negra e uma máscara que ocultava o rosto inteiro e também negra com óculos escuros. Ele deu um super-salto e pousou no terraço do Copacabana Palace. Rubro Negro apertou o botão em seu peito. Ele piscou por alguns segundos e depois apagou.
- E agora? – quando voltou os olhos para o terraço, ele não estava mais lá. – Merda!
Rubro Negro pegou distância do prédio onde estava, sobre a Churrascaria Palace, e saltou para o terraço. Quase caiu na rua, mas conseguiu agarrar-se no alambrado. Subiu e correu para a porta de que desceria com escadas até os andares do hotel. Entretanto, ao abrir a porta, deu de cara com o homem de negro mascarado.
- Peguei você – disse o Copiador.
Com um soco no estômago, Rubro Negro cuspiu sangue. Dobrou-se para frente, sentindo dores incríveis. De relance, viu seu adversário com as mãos feitas de pedra.
- Deve ser muito difícil ir ao manicure, não é, sua bicha?
- Idiota.
Copiador ergueu as mãos e apontou para o Rubro Negro. Disparou uma rajada de energia de plasma, idêntica ao de Rubro Negro. Atingido, ele foi jogado para trás, caindo no chão.
O Copiador correu para cima do herói mascarado e desferiu um chute visando sua cabeça. Entretanto, Rubro Negro desviou e deu um soco no queixo, aproveitando o movimento para erguer-se do chão.
- Seus poderes são meus poderes agora. Raio de plasma, não é? Interessante. O que mais você tem?
Antes que o Copiador e Rubro Negro continuassem a lutar, a porta se abriu atrás deles. Era uma mulher e outros homens vestindo roupas de gala e portando armas avançadas. Certamente eram agentes infiltrados. A saraivada de tiros atingiu a ambos. Rubro Negro e Copiador rolaram para direções opostas do terraço.
- Ei, um pouco de cuidado aqui, heim!
- Dois alvos atingidos, mas precisamos de reforços. São muito poderosos. – A mulher soltava ordens pelo rádio-comunicador. Rubro Negro não entendeu nada. Ele era um alvo também? Não estava ajudando aquela agência secreta?
Antes que se pudesse fazer algo, o Copiador disparou uma rajada de plasma que destruiu uma caixa d’água. Todos foram, então, banhados e arrastados pela forte correnteza. Copiador apenas saltou para outro prédio, sem dificuldades. Rubro Negro se levantava, já preparando uma corrida para saltar e iniciar a perseguição, quando fora atacado pelos homens. Eles usaram algemas que nem mesmo Rubro Negro conseguiu arrebentar.
- Você está preso, Rubro Negro. – a mulher apontava uma arma em sua cabeça, enquanto os homens o mantinham de joelhos.
- Está acontecendo um engano aqui. O Alpha Azul me pediu ajuda e...
- Ele fez o que? – a mulher pegou o botão de sua camisa, com o símbolo da ASP.
Antes que a situação se agravasse, eles ouviram um motor de jato. Alpha Azul pousou ao lado deles. A mulher andou determinada até ele com semblante feroz.
- Você deu o botão rastreador para Rubro Negro? Não sabe que são contra as ordens? – ela apontou o dedo, ofensiva.
- Acalme-se, tenente Maria Nascimento. Rubro Negro é confiável.
- Rubro Negro pode não ser ameaça, mas ele não pode se envolver nos assuntos da ASP. Não foram essas as ordens que tivemos.
- Eu sei disso. Mesmo assim, o Copiador é muito perigoso para nós sozinhos. Rubro Negro será de grande ajuda.
- Alpha Azul, eu entendo que não concorde com algumas ordens da alta cúpula, mas precisamos obedecer para que haja coerência em nossas ações. Se seguirmos nossas ideias e rebelarmos contra a hierarquia, viveremos em anarquia.
- Eu posso falar? – Rubro Negro mostrava um sorriso amarelo para eles, ainda ajoelhado e algemado. – O Copiador fugiu. Se não tivessem me prendido, eu poderia tê-lo alcançado. – Todos olharam para ele. Ele sorriu de volta. Era verdade.

Madrugada, Arthur não deu as caras em casa, mas avisou aos pais que dormiria na casa de um amigo. Na verdade, ele estava como Rubro Negro e em uma nave planando acima das nuvens do Rio de Janeiro. Era a sede da ASP. Era uma nave tão grande que poderiam caber muitos jatos. A tecnologia do local era espantosa.
Estava ele, Alpha Azul, tenente Maria e um monitor com a imagem de vários chefes da agência. Eles falavam cada um em seu idioma e um tradutor comunicava à Rubro Negro. Depois de horas, ficou resolvido que Alpha Azul seria punido por ter recorrido ao Rubro Negro para uma missão secreta.
- Eles são conservadores demais. Burocratas, não querem dividir a informação e o conhecimento para heróis vigilantes como você. Nessa luta, quanto mais nos unirmos, melhor. – dizia Alpha Azul quando lhe retiravam a armadura.
- Eu sou Rogério Platz. Prazer. – estendeu a mão e Rubro Negro cumprimentou. Ele era um homem magro, alto, com cabelos negros, lisos e bem cortados. Tinha um nariz fino, cumprido e olhos castanhos.
- Rubro Negro. – sorriu o vigilante mascarado em resposta.
- Nos encontraremos em breve. Aguarde.
Rubro Negro deu de ombros e foi solto, às cinco da manhã, na Praia do Flamengo. De lá, ele se dirigiu para casa, pensando em uma desculpa para não dormir na casa de um amigo e voltar naquela hora para casa. Quando parou de repente.
“O que eu tô fazendo? Um bando de engravatados que se acham donos do mundo me mandaram ir pra casa e eu tô obedecendo? Ora, Rubro Negro, que vergonha de você. O mundo pode ser a jurisprudência deles, mas no Rio de Janeiro quem vigia sou eu.”
Sendo assim, ele deu meia volta e correu para a Assembléia Legislativa.

A imprensa estava toda lá, tirando suas fotos nas escadarias da Assembléia. A polícia comum estava nas cercanias do bairro e a polícia especial estava cuidando do perímetro do prédio. A Assembléia Legislativa recebeu, em carros-chefes cumpridos como limusines, os presidentes latino-americanos.
Assim que todos entraram e se postaram em seus lugares para o início da reunião daqueles líderes, Rubro Negro surgiu do nada, como se sempre estivesse ali presente. Todos olharam assustados para ele.
- Morram.
Entretanto, antes que ele fizesse alguma coisa, a tenente Maria e outros homens da ASP à paisana pularam sobre ele com as algemas. Rubro Negro usou sua super-agilidade para se desvencilhar de seus agressores e os jogou para todos os lados. A policia especial do Rio de Janeiro entrou em ação e atirou, enquanto os presidentes eram protegidos por seus seguranças. O caos estava instaurado na Assembléia Legislativa. Ninguém era páreo para o Rubro Negro.
Exceto o verdadeiro.
Rubro Negro destruiu o teto do prédio da Assembléia com sua rajada de plasma. Desceu com as duas mãos unidas desferindo um grande soco na cabeça de Copiador que estava com seus poderes.
- Tu deve ter baixa auto-estima para ter que imitar o inigualável Rubro Negro! – aproveitando o momento atordoado de Copiador, Rubro Negro desferiu um chute nas suas costelas e um soco em seu rosto.
Ninguém entendia nada. Dois Rubros Negros? Quem era o verdadeiro? A tenente Maria fez o sinal para não atirarem, concentrou seus esforços na retirada das pessoas daquele lugar. A polícia especial não sabia do envolvimento de outra entidade, mas receberam ordens de seu alto escalão para se retirarem também.
Rubro Negro recebeu um soco no pescoço de sua sósia. Afastou-se um pouco, tossindo. Antes que se recuperasse, Copiador desferiu uma rajada de plasma. Como reação, Rubro Negro disparou também. O choque das duas energias destruiu as cadeiras em que os políticos se sentavam para aprovar leis. As energias se mantinham constantes, com ambos os lutadores concentrados nelas.
- Nenhuma cópia é melhor que o original. – Rubro Negro, entre dentes rangidos, usou toda sua força e descarregou uma carga de plasma maior e sobrepujou o poder copiado do Copiador. Ele foi atingido e jogado contra a parede onde perdeu a consciência. Antes que ele pudesse usar a regeneração de Rubro Negro, tenente Maria e seus comandados surgiram para usar as algemas especiais.
- Não tem nenhuma dessas pra mim não?
- Fique na sua, ou sobra pra você.

Horas depois, Rubro Negro tirou sua máscara em casa, pois havia desistido da aula e dos estudos da tarde. Iria dormir um pouco. Viu que sua mãe e seu pai viam as notícias de última hora: “Rubro Negro faz atentado terrorista na Assembléia Legislativa no encontro do Mercosul”. As coisas voltavam ao normal.
Depois dessa, decidiu que era hora de lavar seu uniforme, todo sujo. Mexendo nele, encontrou um botão preso na bota. Era da ASP. Arthur lembrou das palavras de Alpha Azul e deu um sorriso.

FIM DA PRIMEIRA TEMPORADA.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Rubro Negro #12 - Triminator: Parte 2


Rubro Negro erguia-se olhando rapidamente a sua volta e viu que aquele andar não iria agüentar nenhum minuto. As estruturas foram bastante abaladas pelos raios lasers de Triminator. Desesperado, correu o máximo que pôde até o outro lado do andar, até uma janela onde se jogou no exato segundo que o andar desabava.
Caindo no chão com violência de uma altura de quase dez metros, ele rolou até o meio da rua. Carros desviaram e outros bateram entre si. Rubro Negro sentia suas pernas bambas. Triminator contornou o prédio e riu da desgraça do vigilante mascarado. Apontou novamente com sua arma e disparou vários tiros. Rubro Negro superou o cansaço e correu desviando de ambos. Os tiros rasparam em sua roupa. Saltou rapidamente sobre um caminhão de lixo, procurando se esconder. O sol aparecia com seus primeiros raios naquele momento.
- Você é a escória, Rubro Negro. Acha que pode se esconder no seu habitat natural?
Atirou no caminhão de lixo, acertando o tanque de gasolina. Explodiu em mil pedaços. Rubro Negro era arremessado violentamente sobre um carro, quebrando alguns ossos. Ele se jogou no chão e se arrastou para debaixo do automóvel.
- Isso mesmo! Rasteje, Rubro Negro! E morra!
Com vários tiros, Triminator explodiu o carro. Nesse momento a fumaça cinza subia os céus. Será o fim?

Um pouco antes do almoço, Francisco Heiner comia sobre sua mesa do escritório. Preocupado, só conseguia pensar se seu filho estava bem, se fizera certo em fazer um novo acordo com o Triminator.
- Francisco Heiner. O que está acontecendo? – era Rubro Negro.
- O que? Você não pode ir entrando assim...
Rubro Negro segurou o empresário pelo colarinho e o ergueu do chão.
- Não tô aqui pra brincadeira, Heiner. Por que aquele Triminator raptou seu filho? Ele é seu inimigo? Ele roubou seus equipamentos? E não tente me enganar que eu sei que tu fabrica essas porcarias pois já armou uma gangue para me caçar.
Sem muita escolha e vendo que Rubro Negro já sabia de muita coisa, por isso não tinha como esconder muita coisa. Ele decidiu contar meias verdades.
- Eu paguei bastante para ele, por isso meia-noite de hoje ele me trará de volta meu filho.
Rubro Negro arregalou os olhos, surpreso. Muita sujeira entre esses dois. E, pra variar, Rubro Negro foi jogado no meio disso tudo. Ele se sentiu muito incomodado, uma marionete. Quando iria voltar a resolver os pequenos casos?
- E tu confiou no Triminator?
- Não tive escolhas.
- Então meia-noite eu estarei aqui para averiguar se saiu tudo como deveria.
Rubro Negro foi embora logo em seguida.

Na aula, Arthur bocejava enquanto coçava seus olhos que tinham grandes olheiras. Larissa sentou-se ao seu lado.
- Que cara de quem não dormiu. Farreou muito ontem?
- Um pouco. Mas tu não soube de nada? Um bandido seqüestrou um playboy na chopada.
- Verdade? Que coisa. Ainda bem que não gosto de chopadas. E você deveria estudar mais ou o professor Cardoso vai encrencar pro teu lado.
- Nem me fale – Arthur lembrou que tinha leituras para a bolsa de estudos atrasadas. Bocejou mais uma vez e percebeu que não conseguia parar de pensar na ação que teria meia-noite. Precisaria dormir agora para ter energias de noite.
Depois da aula, ao invés de ir para a Biblioteca Nacional, ele foi para casa. Deitou sobre sua cama e apagou.

Na Barra da Tijuca, onde o deputado Aloísio Mendonça morava, havia uma reunião entre ele e Triminator. Estavam numa sala fechada, blindada e cheia de seguranças fortemente armados. Aloísio Mendonça não confiava em Triminator. Mas também, não podia.
- Então, você acha que Francisco Heiner irá vender sua empresa para mim? – Aloísio estava com seu melhor terno naquela noite. Estava preparado para anunciar imediatamente a compra da empresa e seus novos rumos.
- Acho que ele venderá sua empresa sim. Mas será para mim. – mostrando todos seus dentes ao sorrir, Triminator sacou sua arma e atirou no ombro do deputado. Este caiu desacordado. Os seguranças começaram o tiroteio. Porém, Triminator era imune àquelas balas. Seu corpo era protegido pelo seu cinto de campo de força que lhe garantia uma resistência sobre-humana.
- Meu turno, rapazes. Morram todos.
Triminator começou a chacina. Atirou para matar, sem ouvir os pedidos de misericórdia que alguns daqueles seguranças emitiu antes de conhecer a própria morte. A sala banhou-se em sangue. Quando se voltou para dar o golpe definitivo para acabar com a vida do deputado, Triminator notou que ele havia sumido.
- Maldito deputado. Mas não importa, depois dou um jeito nele. Hora de tratar de negócios.

O dia passou mais rápido do que se imaginava. Arthur acordou algumas vezes para comer alguma coisa e até tentou estudar. Porém, sua cabeça estava em Triminator e Francisco Heiner. Recebeu uma ligação de Sofia. Atendeu, mas receoso.
- Onde você esteve? Sumiu novamente?
- É que eu tive que... voltar pra casa.
- O que? E me deixou sozinha lá na chopada depois que aquele homem voador apareceu?
- Foi urgente. Meus pais ligaram e eu tive que voltar.
- E nem se despediu? Você está mentindo, Arthur. É a segunda vez que isso acontece. Espero que você me conte a verdade.
- Mas eu tô – engoliu seco – falando a verdade.
- Se é assim que prefere, tudo bem. – desligou.
“Puta que pariu, cara. Só me fodo nessa merda. Ser Rubro Negro acaba com minha vida social. Como sempre!”
Assim, a noite chegou.

Francisco Heiner estava em sua empresa. Gostava de ser o primeiro a entrar e o último a sair. Mas naquela noite em especial, aguardava um desfecho favorável. Rubro Negro talvez tivesse razão e talvez não tivesse sido uma boa idéia confiar em Triminator. E agora?
O telefone tocou o tirando de seus pensamentos sombrios. Era Triminator.
- Senhor Heiner?
- Triminator, o que aconteceu?
- Aconteceu que as coisas não seguiram seu rumo. Eu quero que venda sua empresa para mim.
Francisco Heiner ouviu a risada pelo telefone enquanto começava a suar e a pensar em todos os xingamentos possíveis.
- O que você fez, seu pilantra!?
- Eu acabei com seu rivalzinho. E agora tenho seu filho sob minha custódia. Quero que me venda sua empresa, como faria para o deputado.
- Não! Você é um...
- Excelente homem de negócios. Fale a verdade. – riu – tu tem até o meio dia de amanhã para me pagar. O que te dá umas dezesseis horas. Se não transferir os valores de sua empresa para este número que te passarei por fax, pode dar adeus a teu filho.
Desligou o telefone. Francisco Heiner era um homem de negócios, um grande empresário bem sucedido. Mas naquele momento, era um homem acabado. Choraria bastante se não recebesse uma visita inesperada naquele exato momento.
- Parece que estamos no mesmo barco, Francisco. – era ninguém menos que o deputado Aloísio Mendonça, com uma tipóia no braço.
- Aloísio? Como você...
- Pela porta da frente. As pessoas da sua empresa não me odeiam como você. O que me leva à seguinte pergunta: por que quis me matar?
Francisco abaixou a cabeça. Não tinha mais nada a perder. Nada mais importava.
- Você tinha um projeto de lei que iria prejudicar minha empresa. Além do mais, você sabe do meu envolvimento com...
- Ricardinho, o traficante. Eu sei. E agora vejo que seus motivos são mesmo coerentes. No teu lugar, faria o mesmo. – mostrou um sorriso cínico.
- Mas agora nada mais importa. Triminator terá minha empresa e poderá me extorquir para sempre porque tem meu filho sob seu poder. E eu não posso recorrer a polícia sem me arruinar totalmente.
- Não se desespere tão cedo, Heiner. Vamos nos unir. É nossa chance de acabar com dois dos nossos inimigos.
- Dois?
- Sim, meu caro. Rubro Negro e Triminator. Duas aberrações em uniformes coloridos. Mascarados que se julgam acima da lei. Eles se merecem. Merecem se matar.
Francisco raciocinou e deu um soco na mesa com um sorriso nervoso no rosto.
- Isso! Essa é minha chance! Rubro Negro irá salvar meu filho, porque é isso o que ele faz. Triminator e ele podem se matar depois disso!
Assim, Francisco Heiner sorriu e olhou o relógio. Estava esperando dar meia-noite.

Rubro Negro subiu as escadas de emergência do prédio vizinho ao da empresa de Heiner. Olhou para a janela onde ficava o escritório do empresário. Viu que ele estava sozinho, sentado em frente ao seu computador. Não visualizava sua expressão. Era meia noite e nenhum sinal de Triminator ou do filho dele. Era hora de agir.
Saltando, aterrissou rolando sobre o terraço. Depois desceu pelas escadas de emergência e arrombou a porta de Francisco Heiner.
- Vejo que eu estava certo. Triminator te traiu novamente.
- Você estava certo mesmo, Rubro Negro. Mas eu sei onde ele está agora. Por favor, salve meu filho.
- Não se humilhe. Já é suficientemente revoltante ajudar gente inescrupulosa como você. Mas saiba que tô fazendo isso pelo teu filho playboyzinho. – parou um momento para pensar – que merda, tô ajudando um futuro canalha. Mas enfim... Diga-me onde está Triminator?
- Favela do Humaitá. Esse é o endereço. – escreveu num pedaço de papel.

Rubro Negro corria pelas ruas naquela madrugada.
“Tenho mil coisas pra fazer pra faculdade, estudar para a bolsa e ainda ser o herói de uma família de burguesinhos. Por que eu tô fazendo isso mesmo? Que saco”.
Chegando à Rua do Humaitá, viu o morro onde havia várias casas e alguns barracos. Detestava Triminator ainda mais. Ele levou um jovem rico para a favela corroborando com a má fama que os moradores já têm. A idéia que “favelado” é bandido. Triminator pagaria com uma surra.
Indo ao endereço, o vigilante encontrou uma casa sobre o morro, feita de madeira. Ouviu alguém falando em voz alta sobre dinheiro, fama e personalidades da televisão. Definitivamente era a voz de Triminator.
Furtivamente, Rubro Negro se aproximou e se aproveitou das sombras daquela madrugada. Chegou perto da porta e pôs o olho no buraco da fechadura. Viu Maurício Heiner sentado no chão amarrado nas mãos e pernas, ao lado de um colchão e um prato com restos de comida. Triminator estava de costas para a porta, de frente para Maurício. O jovem estudante estava com olheiras profundas, uma cara de abatimento terrível. Triminator conversava como se fosse um amigo, falava amenidades.
“Filho da puta! É um mercenário amante do luxo. Quer se achar no nível do burguesinho ali. Tem maluco pra tudo mesmo.” Com um chute, Rubro Negro despedaçou a porta.
- Triminator, seu desgraçado! Prepare-se para levar uma surra que teu pai deveria ter dado!
- Rubro Negro! Como me encontrou aqui?
- Como te encontrei? Oras, eu sou foda!
Disparou um raio de plasma em seguida. A energia vermelha iluminou todo o quarto e Maurício fechou os olhos, recuando para um canto. Estava totalmente aterrorizado. Triminator estava no chão, colocando a mão sobre sua máscara, ajeitando os óculos grenás.
- Não importa, você é ralé e não vai vencer um homem sofisticado como eu.
Triminator pegou sua pistola e quando virou seu corpo para apontar e atirar, viu apenas a sola da bota de Rubro Negro voando e acertando seu queixo. Quebrou a parede de madeira do barraco e rolou para longe. O mercenário sentia seu nariz formigar e um filete de sangue escorrer. Parecia quebrado.
- Miserável! Você vai pagar!
Rubro Negro corria para sua direção para tentar golpear mais, mas Triminator conseguiu atirar com sua pistola laser. O herói mascarado teve que saltar para trás para desviar. Olhando para o lado, viu o jovem Maurício se debatendo, querendo se arrastar dali. Resolveu ajudá-lo primeiro.
- Calma, garoto. Vim te salvar aqui. – desamarrou suas mãos e pernas.
Maurício, sem falar nada, encarou Rubro Negro com terror nos olhos. Vendo que o vigilante mascarado nada fazia, o empurrou para o lado e levantou-se. Correu desesperadamente pela porta da frente.
- De nada, seu burguesinho mau agradecido!
Rubro Negro sentiu um golpe nas costas. Era Triminator desferindo um chute surpresa.
- Ele sabe diferenciar o certo e o errado, patife. Ele não é da sua laia.
- Triminator, por favor. Cale a boca!
Rubro Negro girou o braço e desferiu um soco cruzado. Triminator cuspiu sangue pela boca. Aproveitando o desequilíbrio que o soco provocou, o herói mascarado deu outro cruzado, mas com a outra mão. Triminator se virou totalmente para o outro lado com seus óculos grená trincados. Então, o mercenário ergueu as duas mãos espalmadas para frente.
- Por favor, não me bata mais. Não sou super-resistente como você, estou sofrendo! – choramingou Triminator.
Diante disso, Rubro Negro titubeou.
- Covarde de merda. Tu vai pra cadeia. – usou suas mãos para segurar os ombros de Triminator. Dessa vez, Rubro Negro foi inocente.
- Idiota!
Com um movimento rápido e surpreendente, Triminator se desvencilhou das mãos de Rubro Negro. Pegou sua pistola e mudou para a opção de paralisar e atingiu o herói mascarado. Antes que pudesse soltar um palavrão, Triminator o segurou pelo braço e ligou os motores do jato em suas costas.
- Agora você vai sofrer como nunca, Rubro Negro.
Ambos decolaram, destruindo o teto do barracão. Voaram até o céu escuro da madrugada carioca. Voaram para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Rubro Negro sentia seus músculos duros, paralisados. Aquela pistola o impressionava.
Triminator ergueu com seu braço esquerdo o Rubro Negro pelo braço.
- Adivinha só. Meu cinto me dá uma boa proteção e também super-força. Sabia disso? Melhorias de Francisco Heiner.
Desferiu um soco no rosto de Rubro Negro com a outra mão.
- Fraco. Bate que nem homem! – Rubro Negro mostrou um sorriso cínico.
Triminator ficou irritado e desferiu vários socos no rosto do herói mascarado. Cada golpe era muito duro e forte, fazia Rubro Negro sentir bastante. Seu nariz quebrou e seu olho direito ficou roxo. Outras escoriações foram lapidando o rosto do vigilante. Até que Triminator viu sua mão encharcada de sangue.
- Eca!
- Triminator, quando essa paralisia passar, você não terá perdão. Não adiantará choramingar por nada nesse mundo. Eu vou te desfigurar, cara.
- Não se eu te afogar primeiro.
Triminator largou o braço de Rubro Negro. Ele despencou de quase quarenta metros em direção à Lagoa Rodrigo de Freitas. Durante a queda, ele sentiu que podia se movimentar novamente. Não pensou duas vezes: apontou com seus braços para Triminator e atirou sua rajada de plasma com o máximo de energia que conseguia concentrar naquele momento.
O mercenário das três cores recebeu o golpe em cheio e perdeu o controle do jato em suas costas, aparentemente danificado. Perdeu altura e foi caindo na lagoa também.
Minutos depois, Rubro Negro saía da lagoa, encharcado e com o rosto apenas machucado. Seu poder de regeneração estava cuidando de fazer reparos em seu rosto. Ele tirou sua máscara e mirou seu rosto num retrovisor de um carro.
- Melhor que cirurgia plástica.
Recolocando a máscara foi para um ponto onde pudesse observar toda a lagoa. Vigiou até o sol nascer. Triminator estava desaparecido. Teria morrido afogado?

sábado, 17 de julho de 2010

Rubro Negro #11 - Triminator: Parte 1


Em um armazém nas docas do estaleiro no Rio de Janeiro, um homem colocava uma máscara esverdeada. Guardava uma pistola com vários avanços tecnológicos e apertava um botão em um aparelho no cinto que ligava o motor da mochila em suas costas. Assim, ele decolava e voava sobre a cidade.

Arthur e Larissa estavam no Largo de São Francisco de Paula naquele dia. Havia muita gente para um grande momento para os estudantes de humanas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Por conta de um acordo da prefeitura, do governo federal e de apoio de dinheiro privado, começariam as obras para a reconstrução do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Nessa relação público-privado, a maioria dos estudantes engajados politicamente torcia o nariz. Arthur fazia coro com eles.
- Acredita nisso? Dinheiro privado significa interesse privado.
- Você deveria estar feliz, Arthur. Vão reconstruir nosso Instituto, sairemos do Fundão, que não é nosso lugar.
- Mas com certeza esses endinheirados têm interesses. Podem se intrometer na nossa pesquisa. Já não basta a academia estar afastada das questões populares, de estar fechada em si mesma? Agora as coisas tendem a ficar piores.
- Você é muito mal humorado, Arthur. Nada está bom pra você.
E se tornaram piores. O deputado Aloísio Mendonça e o empresário Francisco Heiner eram os responsáveis por tudo aquilo. Coisa boa não poderia ser. Os dois se cumprimentaram com vários fotógrafos e jornalistas presentes.
De repente, todos puderam ouvir sons de motores e turbinas. Olharam para cima e viram alguém voar com uma mochila a jato. Ele possuía uma camisa com listras grenás e verdes na vertical. As mangas cumpridas eram brancas e terminavam nas luvas grenás. Suas calça era colada e verde e suas botas grená. Possuía um sorriso sarcástico no rosto.
As pessoas só começaram a correr depois que o homem voador sacasse sua arma. Parecia uma pistola, mas possuía avanços tecnológicos muito além do que já fora visto. Desespero e aflição. Todos corriam para direções aleatórias. Arthur viu que a polícia iria demorar a agir então, pensou em correr para se trocar.
Porém aquele homem voador atirou no deputado Aloísio Mendonça, errando por pouco. O próximo tiro, não erraria. Arthur viu que não tinha tempo para se trocar. Saltou sobre o deputado e evitou que ele levasse outro tiro. Naquele momento, os jornalistas não se preocuparam em gravar ou tirar fotos daquilo. Era cada um por si. Depois de salvo o deputado, Arthur se preparou para correr para um canto e se trocar. Mas o deputado segurou em seu ombro.
- Obrigado, garoto.
Arthur balançou a cabeça num aceno sem graça.
“Imbecil, nem lembra que eu já salvei sua pele contra o Ciborgue Titânio” relembrou Arthur, da vez em que ele ficou com mais créditos de salvador que o Rubro Negro.
O homem voador atirava nos policiais que apareciam. Aquela arma disparava laser e era bastante poderosa, pois causava uma explosão em cada alvo. Todos os policiais ali morreram na hora com ferimentos horrendos, dignos de página de jornal sanguinolento. Francisco Heiner estava deitado no chão, como outras pessoas, protegendo sua cabeça do tiroteio.
Súbito, o homem voador viu Rubro Negro saltar de um prédio sobre ele. Desviou no exato momento para desviar de um chute com os dois pés do herói mascarado.
- Opa! Errou, Rubro Negro. – disse, em voz zombeteira.
- E quem é você, ô cheio de cor. – Rubro Negro se levantava de seu tombo, preparando sua posição de combate, olhando para cima, vendo as acrobacias de seu adversário. Certamente, ele não era novato naquelas acrobacias.
- Seu uniforme é ridículo, devo dizer. Extremo mau gosto essa combinação de cores... – o voador apontou a arma e atirou várias vezes na direção do herói.
Rubro Negro desviava saltando para os lados, correndo para o campo próximo, tentando fazer com que ninguém se tornasse alvo. Até que foi atingido nas costas e caiu, rolando no chão. O voador se aproximou mostrando uma risada zombeteira.
- Eu sou o Triminator, meu caro. Um sofisticado mercenário. Espero que aproveite seus últimos segundos de vida, pois tirarei sua vida.
- Ah, cale a boca. – Rubro Negro apontou a mão e disparou uma rajada de energia vermelha, poderosa. O ferimento das costas do herói já havia sido regenerado. Triminator, por sua vez, fora atingido e jogado para trás incapaz de continuar voando. Erguendo-se com a mão na cabeça e uma expressão indignada, o vilão apontou sua arma para Rubro Negro.
- Não pense que pode me vencer com esse seu raiozinho de merda, Rubro Negro. Eu tenho este cinto aqui que me garante um campo de força.
O herói mascarado ficou surpreso, já de pé, como seu adversário foi resistente ao seu poder. Será que aquele campo de força era tão eficiente assim? Experimentou o combate corporal. Rubro Negro correu, usando sua super-velocidade, encurtou a distância entre eles e desferiu um chute com os dois pés sobre o peito de Triminator.
O vilão mascarado recebeu o chute fazendo um gemido e dando uns passos para trás. O herói mascarado confirmava que o tal campo de força era muito resistente, pois segurava bem seus poderosos socos.
Triminator não deixou por menos. Ergueu sua arma novamente e atirou raios lasers e causou alguns buracos no peito de Rubro Negro. O herói caiu de joelhos fazendo careta de dor. Triminator, então, chutou a cabeça do herói mascarado, tirando um filete de sangue. Repetiu o golpe e, dessa vez, tirou sangue de seu nariz. Rubro Negro estava atordoado e mal pôde reparar a arma na testa. Seria um tiro fatal, até mesmo para sua regeneração física.
- Sabe o que é pior? Vou sujar minhas mãos com seu sangue imundo e pobre. Você é uma vergonha, sabia? Um homem pobre que veste uma roupa ridícula.
- Triminator, me permite as últimas palavras? – Rubro Negro respirava com dificuldade.
- Sim – Triminator sorria, afetado.
- Vai tomar no meio do seu cu. – Com um golpe rápido na arma, desarmou seu adversário. Rubro Negro se levantou com um soco no queixo de Triminator com a outra mão. Aproveitando o movimento, ele ficou de pé e seu adversário afastou-se alguns passos. Rubro Negro deu-lhe um soco no estômago e outro soco no rosto. Triminator cuspia saliva misturada com sangue.
- Você é um grande merda. – Rubro Negro rangia de raiva e desferiria mais um soco, mas Triminator ligou sua mochila de jato. Voou para trás se afastando. Rubro Negro correu e o agarrou em pleno ar. Ambos levantaram vôo e ganharam grande altitude. Muito alto. Rubro Negro olhava para baixo e sentia vertigem. Percebendo a fraqueza de seu rival, Triminator gargalhou.
- O que foi, Rubro Negro? Medinho de altura? – Triminator desferiu uma cotovelada na cabeça de Rubro Negro.
O herói mascarado ainda segurava, mas Triminator desferia outras cotoveladas e aumentava a altura. Chegou um momento que ele não agüentou e largou. Caiu por muito tempo, imaginando se era capaz de sobreviver a queda.
Caiu e apagou.

Francisco Heiner socava a mesa de seu escritório.
- Você falou, miserável! – berrou.
- Eu tinha tudo sobre controle. Não imaginei que aquele molambo aparecesse. – era o Triminator, o exterminador mercenário.
- Eu te dei equipamento. Deveria ser o suficiente para evitar qualquer obstáculo. Eu quero o deputado Aloísio Mendonça morto!
- Pelo jeito, não foi. Se me pagar mais 50%, mato Aloísio. O preço subiu, claro, por causa do Rubro Negro...
- Você não passa de um verme. Não vou pagar nada. Deixe aqui meus equipamentos e suma da minha vida!
- Não. Eu vou embora e levarei isso comigo como um pagamento por ter enfrentado o Rubro Negro. – Rindo, Triminator voou pela janela e passeou livre pelo céu do Rio de Janeiro.

Arthur acordou no dia seguinte, desligando o despertador. Resmungou bastante por ter dormido apenas por duas horas. Ele lembra de ter acordado de madrugada num terraço de algum prédio do centro. Sentia ainda alguns ossos quebrados naquele momento. Voltou para casa e dormiu até o despertador tocar para avisá-lo de mais um dia na faculdade.
Já na aula, seus ferimentos estavam curados. Ficou o dia todo preocupado, mas recebeu uma única boa notícia: uma chopada para a recepção dos calouros do curso de História.
De noite, ele bebia e conversava com amigos, sempre com uma latinha de cerveja na mão. Viu Sofia em algum lugar e foi conversar com ela. De algum modo, conversar com ela era relaxante e lhe inspirava em vestir aquela roupa para combater os caras ruins dessa cidade. Caras como Triminator.

Enquanto isso, Triminator voava até a casa do deputado Aloísio Mendonça na Barra da Tijuca. Vazia, ele usou sua arma de laser para destruir uma janela de vidro. Invadiu, andando pela escuridão, procurando alguma coisa valiosa, ou alguma coisa que dê motivos para que Francisco Heiner o odeie.
Quando menos esperava, Triminator fora pego de surpresa. Vários homens armados surgiram por várias portas e o cercaram na sala principal da casa de cobertura. O deputado apareceu com expressão séria no rosto.
- Vamos conversar, lunático.
- Pois vamos sim, deputado. Primeiramente, deixe-me apresentar. Eu sou Triminator, assassino de aluguel.
- Seu nome não me interessa. Quem te contratou para me matar?
Triminator riu tranquilamente.
- Posso te dizer o nome dele, mas por um preço.
- Que tal se eu te permitir viver? Não está em condição de exigir nada.
- Ah, você acha que esses seguranças podem me deter? Nem o Rubro Negro pôde.
O deputado rangeu os dentes. Foi fisgado.
- Está certo, eu pago.
Triminator sorriu, maquinando planos.

Arthur e Sofia estavam bem próximos, um pouco embriagados, deixando suas vontades mais íntimas aflorarem. Era um bom momento, julgava Arthur. Então, tudo foi estragado. Um brilho e vários gritos. Todo um clima de pânico foi instaurado do outro lado da chopada. Arthur e Sofia foram ver o que estava acontecendo, junto com outros curiosos. Ele logo se arrependeria de ter saído da cama.
Triminator agarrava um garoto com roupas caras, típico mauricinho e o levava para longe, sem dar explicações e ignorando os gritos de desespero do rapaz. Arthur saiu correndo, deixando Sofia para trás. Ela ficou bastante irritada, mas isso ele teria que lidar depois. Pelo que ouvira das pessoas admiradas, aquele era um estudante de direito que estava de penetra na chopada. Era Maurício Heiner, ninguém menos que o filho de Francisco Heiner.
Colocando sua máscara, ele correu pelo chão, seguindo Triminator e o rapaz seqüestrado. Rubro Negro tentava entender as motivações daquele lunático.

Triminator voava em grande velocidade. Chegou até a Favela do Humaitá e o largou em um barraco.
- É triste ter que vir até esse lixo onde essa ralé mora. Mas são ossos do ofício, não é? – Triminator sorria enquanto fechava a porta do cativeiro daquele rapaz. O deputado Aloísio estava ali presente. Imediatamente, ele ligou para Francisco Heiner.
- Estou com seu filho, o que você acha disso? Achou que podia tentar me matar e sair impune?
- Meu filho! Por favor, não o machuque! O que você quer de mim? – Francisco se desesperou.
- Quero que venda sua empresa para mim por um preço de banana. Você tem 24 horas para decidir. Ou seu filho irá pagar com as conseqüências.

Um pouco antes de amanhecer, Triminator apareceu na casa de Francisco, no Leblon.
- Seu crápula! Você me traiu! – Francisco Heiner apontava o dedo para Triminator, que flutuava pelo seu quarto.
- Não existe traição no meu meio, Heiner. Eu sou um profissional, trabalho para quem me pagar melhor. Mas escute, vim aqui para te oferecer uma contraproposta.
- O que? – estava incrédulo, não conseguia nem chamar os seguranças.
- Me dê equipamentos melhorados e eu pego de volta seu filho e de quebra mato o deputado. Mas também quero mais dinheiro. Mais do que ele me pagou.
- E o que me garante que você irá cumprir dessa vez?
- Ele é um deputado, um homem rico. Mas você é um empresário bem sucedido. Você tem mais dinheiro que ele. Pode vencê-lo nessa disputa. Além do mais, você prefere perder sua empresa inteira ou apenas uns equipamentos? – Triminator sorria, como um ótimo homem de negócios com grande habilidade no mercado.
- Está bem. Vou te dar esta pistola. Ela tem tiros teleguiados e você pode mudar para a função de paralisia.
Triminator pegou a arma e acenou. Era, de fato, um grande homem de negócios.

O vilão voava pelo céu, fazendo cálculos de quanto já havia lucrado. Poderia passar um ano inteiro sem trabalhar como mercenário, somente aproveitando os luxos de uma vida de magnata. E tudo que fizera fora ser apenas esperto e mexer com as pessoas certas. Porém, em pleno ar, fora atingido por uma rajada de plasma. Rubro Negro estava em seu encalço.
- Achou que ia se livrar de mim tão fácil?
- O que? Aquela queda não o matou?! – Triminator estava admirado, tentando controlar sua mochila com jato para não perder o equilíbrio. Rubro Negro estava sobre o terraço de um prédio no Jardim Botânico. Havia perdido seu alvo horas atrás, mas recuperou quando saía do Leblon. Agora era hora do acerto de contas.
Triminator riu e atirou várias vezes sobre o vigilante mascarado.
- Hora de testar meu novo brinquedo.
Rubro Negro desviou rolando para o lado, desviando de todos, mas quase caindo do terraço.
- Sou mais o meu poder.
Rubro Negro disparou sua rajada novamente e atingindo Triminator em cheio. Ele perdeu altitude e voou mais para perto do chão, para mais longe também. O herói mascarado pulou para outro prédio, menor e o perseguiu. Triminator parecia fugir, mas voando baixo. Rubro Negro correu por prédios menores e calculou um salto para subir sobre seu adversário.
No salto preparou uma cotovelada. Porém, Triminator estava atraindo para uma armadilha. Quando Rubro Negro saltou, Triminator disparou seu raio no módulo de paralisia. Dessa forma, o vigilante mascarado estava agarrado nas costas de Triminator e não podia se mexer.
Triminator voou alto novamente e se chocou de costas numa parede esmagando o herói mascarado nela. Depois o arrastou sobre um muro com cacos de vidro. Rubro Negro teve, além de seu uniforme, a carne rasgada deixando um rastro de sangue.
Triminator voou sobre um prédio em construção e chocou Rubro Negro na parede novamente. Dessa vez ele largou Triminator e deslizou na parede começando a cair por muitos metros.
- É o seu fim, Rubro Negro.
Usando sua nova pistola, disparou dois tiros teleguiados que arremessaram o herói para dentro do prédio em construção. Subitamente, o andar inteiro desabou sobre sua cabeça...

CONTINUA

domingo, 11 de julho de 2010

Rubro Negro #10 - O Deus da Guerra


Arthur acordava para o primeiro dia de aula, retorno das férias de julho. Rapidamente ligou seu computador para buscar as notícias policiais. Desde que Ronaldo fora preso alegando amnésia, ele ficou imaginando uma fuga espetacular da prisão em busca de vingança. Mas isso não aconteceu até as férias acabarem. Arthur começou a acreditar que era verdade. E ficou feliz com isso. Talvez as coisas piorem quando ele se der conta dos poderes que tem.
Afastando pensamentos agourentos, Arthur terminou seu café da manhã e foi pegar um ônibus para o Fundão. Ficava imaginando quando o IFCS seria reconstruído. Talvez nunca, pois o poder público não ligava para a educação ou preservação de um prédio público e histórico.
Seu celular tocou e era Sofia. Ele havia contado a ela que Ronaldo estava metido com tráfico de drogas e que estava seguindo por motivos pessoais do passado. Ela insistiu e ele foi obrigado a contar que fazia parte de uma gangue de brigões de rua e Ronaldo fazia parte de outra rival, mas Arthur tentou amenizar a notícia dizendo que saiu da gangue quando soube que eram metidos no crime organizado. Sofia achou que aquele passado era horrível, mas que não mudava seu pensamento atual, pois via Arthur como ele era hoje: alguém de bom coração e esforçado.
Marcaram de se encontrar de noite no Teatro Municipal para assistirem a uma peça. Desligado o telefone, Arthur foi para suas aulas.

Depois da aula, Arthur e Larissa foram chamados para a sala do professor Cardoso para dar inicio aos trabalhos da bolsa de pesquisa. Arthur aproveitou para checar se estava tudo bem com o professor e percebeu que ele vivia uma vida normal. Aparentemente, nunca mais havia se tornado no Lobisomem.
- Quero que vocês pesquisem na Biblioteca Nacional e façam um fichamento sobre estes livros aqui.
Arthur viu que eram sobre mitologia nórdica e seus impactos na Idade Média. Um trabalho e tanto e os dois estudantes ficaram empolgados. No caminho para a Biblioteca Nacional, ficaram dividindo tarefas. Chegando na Avenida Rio Branco, perceberam duas viaturas de polícia. Curiosos, Larissa e Arthur foram saber o que estava acontecendo.
- Um homem louco está ameaçando a vida de uma mulher! – disse alguém que fugiu de dentro do lugar.
Arthur torceu o nariz. Tinha que fazer alguma coisa pra investigar.
- Larissa, acho que vamos ter que adiar essa pesquisa. Amanhã, na mesma hora?
- Arthur, já está fugindo do trabalho? Podemos esperar a polícia imobilizar esse louco, ué. – Arthur revirou os olhos.
Súbito, uma janela de vidro do segundo andar explodiu carregando um grande estrondo. Parecia uma pancada em concreto. Larissa olhou para cima assustada e, quando voltou sua atenção para Arthur, ele já não estava mais lá.

Rubro Negro subiu no terraço da Biblioteca já arrumando um meio de descer. Porém, antes de chegar na porta do terraço que dava para as escadas, uma mulher surgiu correndo, com terror em seus olhos. Era uma mulher de óculos de grau, cabelos loiros presos. Ela estava tão amedrontada que sequer sentiu medo de Rubro Negro. Correu até ele e o abraçou.
- Me salve! – gritava.
O vigilante mascarado não precisou imaginar do que ela fugia. Um homem de quase de dois metros apareceu, caminhando calmamente. Era negro, cabelos cortados bem curtos, negros em forma de tranças. Em seu torso nu e totalmente musculoso havia várias cicatrizes. Em seu pescoço, carregava um colar de ossos e dentes. Vestia saiote com panos leves e azulados. O que mais chamava atenção eram seus olhos vermelhos.
- Saia do meu caminho. Ou ouse testar sua força contra a de um deus.
- Vou ter que te decepcionar, cara. Vamos acalmar os ânimos aqui, certo? – Rubro Negro tentava entender o que um homem daquele tamanho totalmente insano iria ter assuntos com aquela mulher.
O homem correu na direção de Rubro Negro. Talvez por arrogância ou por surpresa, Rubro Negro posicionou-se para lutar com certa displicência. Arrependeu-se amargamente.
O herói mascarado sequer viu o movimento do soco daquele homem enorme. Mas sentiu uma dor avassaladora no estômago. Cuspiu sangue e sentiu o chão se afastar. Ele fora arremessado pra cima com um poderoso soco de baixo pra cima. Caiu totalmente aturdido.
Balançando a cabeça, viu aquele poderoso homem mostrando um sorriso satisfatório. Seu olhar demonstrava serenidade de um vencedor. Caminhou lentamente em sua direção. Rubro Negro se virou e se levantou com dificuldade. Seu poder de regeneração já estava agindo.
- Putamerda. Quem é você, cara?
- Eu tenho vários nomes. Mas você pode me chamar de Ogum, o deus da guerra.
Rubro Negro fez uma careta de quem estava confuso. Com sua escoriação já curada, ele saltou sobre aquele homem insano. Porém, o auto denominado Ogum se jogou de costas no chão e chutou com os dois pés no peito do herói mascarado. O golpe serviu de alavanca que fez Rubro Negro ser atirado para o outro lado do terraço.
“Esse negão tem super-força, definitivamente. O que será que está acontecendo?” Rubro Negro mal teve tempo de erguer-se e já foi atingido no rosto. Outro soco de Ogum. As coisas não iam bem. Um salto para trás, Rubro Negro se afastou. Concentrando sua energia nas mãos, disparou uma rajada de plasma certeira. Atingido em cheio, Ogum voou longe e caiu do terraço. Rubro Negro e a mulher correram para a borda do terraço e não viram ninguém. Ogum desapareceu.

- Ele vai voltar. Você não pode detê-lo, ninguém pode. – falava apreensiva enquanto gesticulava bastante. Estava muito agitada.
- Certo, certo. Se acalme. Vou te tirar daqui primeiro. Me conte no caminho o que diabos está acontecendo.
Enquanto Rubro Negro saltava da Biblioteca para um prédio menor e depois escalava para um prédio maior com a mulher nas costas, Ogum observava a cena, escondido num canto do terraço. Ele havia caído, mas se jogado na janela do segundo andar da Biblioteca Nacional. Depois que subiu, não encontrou Rubro Negro e sua mulher.
Jéssica Cunha era o nome dela e Ogum se chamava Rodolfo Pilar e ambos eram pesquisadores da cultura e mitologia yoruba. Eles se conheceram no doutorado e se casaram. Entretanto, cerca de alguns meses atrás Rodolfo e Jéssica haviam ido para a África para estudar fontes primárias para uma pesquisa que realizariam em conjunto.
Durante as investigações, eles descobriram uma espada que, segundo as lendas locais, pertenceu ao próprio Ogum, usada em guerras contra reinos vizinhos como Ará e a cidade de Irê. Ao tocar o artefato, de algum modo, Rodolfo se alterou completamente. Ficou maior, mais forte e seus olhos se tornaram vermelhos. Ele mudou tanto que se considerava a reencarnação de Ogum, o deus da guerra para os yoruba.

Rubro Negro e Jéssica estavam sobre a Livraria Saraiva da Rua Sete de Setembro, alguns quarteirões da Biblioteca Nacional.
- Eu retornei ao Rio para pesquisar alguma cura, pois acredito que a resposta esteja no sincretismo resultante da cultura brasileira. Ogum, no Brasil, tem o aspecto de São Jorge. E você precisa me ajudar. Eu preciso de mais tempo. Ele quer me levar de volta para a África para eu ser sua rainha, ou algo do gênero.
- Eu entendo, mas eu normalmente não me meto em briga de casal.
- Ele é perigoso. De alguma forma, ele possui poderes assombrosos. Se não pararmos ele machucará quem ele quiser.
- Olha, acho melhor você ficar naquela casa ali – Rubro Negro apontou para um apartamento – era de um amigo meu que faleceu há um ano.
- Mas eu não posso, tenho que usar a Biblioteca Nacional para pesquisar! Ele me achará aqui – ela agitou os braços.
- Ele não vai te achar. Ogum é um guerreiro, não um caçador. Agora eu meio que tenho um compromisso, então, por favor, fique aqui até eu voltar. Prometo que pensaremos juntos num jeito de tu continuar sua pesquisa.
Assim, Rubro Negro saiu dali. Ogum continuava andando pelas ruas do centro. As pessoas o olhavam de esgueira. Era um homem muito esquisito e chamava alguma atenção. Mas todos o tomavam apenas como um homem fantasiado. De alguma forma, Ogum sentia a presença de Rubro Negro. Era como se ele pudesse sentir a energia sobre-humana que envolvia o vigilante mascarado. Dessa forma, depois de algumas horas, não foi difícil achar o esconderijo onde Jéssica estava.
Arrebentando a porta do antigo e abandonado apartamento de Roberto, o jovem que deveria ter sido capturado e servido de cobaia para os experimentos de Gabriel Soares, a mando do traficante Ricardinho, Ogum não encontrou ninguém. Jéssica não estava lá.
Arthur e Sofia se encontraram nas portas do belo Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A entrada custou alguns almoços de Arthur, mas valeria a pena acompanhar Sofia. Ele sentia que hoje, talvez, pudesse se aproximar mais dela.
A peça foi interessante, Sofia adorou. Entretanto, Arthur bocejou várias vezes. Não era seu tipo de diversão favorita. De repente, Ogum entrou pelas portas, derrubando alguns seguranças. As pessoas da platéia se ergueram amedrontadas e o pânico foi instaurado. Ogum clamava em desafio para Rubro Negro.
“Como ele sabe que estou aqui? Que merda! Mais um que sabe da minha identidade secreta? Impossível, eu tomei cuidado ao me trocar!” Entretanto, Ogum passou no meio da platéia, em direção ao palco. Sequer virou viu Arthur. “Maravilha, ele sabe que estou aqui, mas não sabe quem sou eu. Ótimo. Vou me trocar e espero que Sofia me perdoe depois”.
Sofia olhou para os lados, em meio a platéia se acotovelando para sair dali e não viu mais Arthur.
- Rubro Negro, eu sei que está aqui. Vamos, apareça. Eu te desafio a um duelo.
Rubro Negro apareceu entre as cadeiras suspensas, no segundo andar.
- Ei, deus da guerra, estou aqui!
Ogum saltou como nunca. Era quase um vôo. Rubro Negro se surpreendeu e teve que desviar de um chute que tinha endereço certo. O herói mascarado, então, pulou para fora do Teatro, aterrissando nas escadas. Ogum o seguiu gritando:
- Onde está Jéssica? Onde está minha mulher? Pare de fugir, seu covarde!
Rubro Negro parou de correr de Ogum, virando o corpo na direção dele. Foi um movimento inesperado e pegou Ogum de surpresa. Rubro Negro desferiu um grande soco em seu queixo, depois encaixou uma seqüência de um chute no estômago e uma cotovelada na nuca. Ogum tonteou em zigue-zague.
- Você não é um deus porra nenhuma. – Rubro Negro preparou sua rajada de energia, quando Ogum agarrou seu pescoço e segurou uma de suas mãos, apertando seu pulso. Rubro Negro se sufocava e não conseguia concentrar em sua rajada de plasma.
- Você tem 24 horas para me trazer Jéssica de volta. Ou irei provocar uma grande desgraça sobre você e sua família. Ela saberá onde me encontrar.
Rubro Negro foi solto, jogado de cabeça nas escadas da entrada do teatro. Quando se virou, com sangue escorrendo pela lateral do rosto, não encontrou mais Ogum. Socando o chão, ele se levantou irado.
“O desgraçado é muito forte. E começo a acreditar que ele é capaz de fazer uma macumba daquelas. Merda!” Rubro Negro correu dali, em direção ao apartamento onde havia deixado Jéssica. Depois de alguns minutos correndo pelas ruas, dividindo espaço com carros, ele chegou ao apartamento de Roberto. Jéssica não estava lá.
Praguejando e xingando bastante, Rubro Negro ficou no terraço daquele prédio por algum tempo, pensando no que fazer.
“Agora tenho que achar aquela mulher e esse negão desgraçado. Onde ela se meteu?” O herói mascarado não sabia por onde começar. A Biblioteca Nacional estava fechada naquele momento. Onde ela teria ido?
“Estou fazendo tudo errado. Não tenho que procurá-la, tenho que achar o esconderijo de Ogum e prendê-lo. Ele disse que Jéssica saberia onde encontrá-lo, isso quer dizer que pode ser um lugar romântico deles ou um lugar que tenha algum significado relacionado a Ogum ou orixás.”
Rubro Negro viu que alguns curiosos que voltavam da noitada tiravam fotos com celulares. Ele estava sentado na beirada do terraço com o queixo apoiado em seu punho fechado. Ele acenou para aquelas pessoas e deu um sorriso amigável. Um dos curiosos fez um gesto obsceno. Uma mulher fez o sinal da cruz. Rubro Negro, então, teve uma idéia.

Ogum estava dentro de uma construção similar a um canteiro de igreja. Tinha paredes brancas, teto acinzentado. Pessoas vestindo roupas brancas com todos os tipos de apetrechos religiosos de candomblé estavam em circulo, assustados. Aparentemente, Ogum não era realmente quem dizia ser. Achavam aquele homem lunático por se achar ser uma divindade. Viam até como desrespeitoso.
Enquanto ele gritava a todos que era hora de que seus seguidores voltassem para a África, um absurdo para os ouvidos daqueles devotos, Jéssica apareceu pela porta da frente.
- Enfim, você veio. Entendeu o seu destino ao meu lado. Juntos, guerrearemos na nossa terra.
- Não, Rodolfo, eu trouxe uma forma de impedi-lo em sua loucura.
- Não me chame de Rodolfo! Eu sou Ogum, o deus da guerra!
- E eu sou o Rei da Inglaterra – Rubro Negro surgia por uma das janelas daquele templo de candomblé. Era um terreiro, a maior da cidade.
- Rubro Negro, não é? Eu sabia que vinha. Esteja preparado, pois iremos guerrear pela verdade.
- Por mim, tá ótimo – Rubro Negro mostrou apreensão, pois seu adversário era muito forte e, pelo visto, lutariam como uma espécie de ritual, cercado por gente inocente. E não queria também danificar aquele lugar de fé para tantas pessoas.
Os dois correram um na direção do outro. Rubro Negro deu o primeiro golpe, um soco, mas Ogum desviou para o lado. Colocou as mãos para trás e deu uma cambalhota, erguendo os pés e chutando o rosto do herói mascarado. Rubro Negro se afastou um pouco. Ogum avançou girando o corpo e erguendo a perna direita. Eram chutes rápidos e precisos. Rubro Negro erguia os braços e abaixava a cabeça. Protegia-se como podia.
Então, Rubro Negro viu uma brecha entre os chutes e os rodopios de seu adversário. Esticou o braço e deu um soco bem dado no estômago de Ogum. Ele caiu desequilibrado. Rubro Negro saltou sobre ele e os dois se agarraram no chão, girando para os lados. O herói mascarado ficou por cima em um momento e desferiu um grande soco no rosto de seu adversário. Ele ficou tonto, dando chances para Rubro Negro continuar a dar mais socos. Porém, Ogum usou sua força para voltar a girar sobre Rubro Negro. Por baixo, ele recebeu vários socos na cara. O sangue escorria farto pelo rosto do Rubro Negro, cheio de escoriações.
As pessoas a volta de Ogum faziam caretas, começavam a se revoltar. Jéssica gritou:
- Pare com isso, Rodolfo! Esse não é você! Você não o deus da guerra!
As pessoas começaram a entrar no coro de Jéssica e gritaram para que ele parasse de espancar o Rubro Negro. O herói mascarado tinha uma visão embaçada pela máscara toda torta e pelos olhos roxos. Ogum parou de bater por um momento, pois aquelas palavras o deixaram irritado.
- Homens de pouca fé!
Rubro Negro aproveitou e encaixou um soco na têmpora de Ogum, o tirando de cima de si. Erguendo-se com dificuldade, Rubro Negro sorria com sua cara amarrotada. Jéssica viu um fio de esperança ao ver o herói mascarado de pé.
- A espada dele. Você precisa destruir a espada dele. Acredito que assim ele voltará ao normal. Mas você terá que destruir pedindo por São Jorge.
Rubro Negro fez uma careta. Ele não era um homem de fé e tudo aquilo que acontecia naquela noite estava além do bizarro para sua imaginação. Olhando para os lados, ele viu um pequeno altar com uma espada decorativa, representando a espada de Ogum. Quando virou seu corpo para ir até o altar, sentiu um chute nas costas. Voando sobre várias cadeiras, Rubro Negro se afastou de seu objetivo.
- Merda, cara. Esse chutinho não doeu nada. – Rubro Negro se levantava sentido suas costas doerem como nunca. Ogum se enfureceu e correu na direção do Rubro Negro.
“Na mosca.” O vigilante mascarado desviou de um chute de seu adversário e o agarrou aproveitando a brecha. Usou toda sua força e manteve Ogum preso. Rubro Negro concentrou-se gritando.
- Saiam daqui agora!
As pessoas começaram a fugir. Ogum começou a se soltar. Assim que a última pessoa saiu, Rubro Negro gritou:
- Me ajuda São Jorge! – em seguida explodiu sua energia de plasma em tudo a sua volta. Cadeiras e altar foram destruídos. A estrutura do templo foi abalada, mas não ruiu. Ogum estava desacordado e sua espada destruída.

Arthur terminava o telefonema com Sofia se desculpando por ter ido embora e a deixado sozinha no teatro. Não teve muito êxito. Decidiu que deveria pensar nisso depois, pois tinha muito trabalho pra fazer.
Ficou lembrando de sua vitória sobre a lenda ou mito que se fez verdade. Rodolfo voltou ao normal depois da destruição da espada. Ficou tentando imaginar como seu professor Cardoso havia se transformado em Lobisomem e percebeu que havia realmente alguma mágica no mundo.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Rubro Negro #9 - O Uniforme Branco: Parte 3


Em uma casa do Morro de São Januário, Ronaldo estava sem camisa, erguendo pesos de cem quilos. Estava com um semblante sério, pensativo. Lembrava de cada momento em que Rubro Negro atrapalhou sua vida, tirando seus empregos, o humilhando. Só que dessa vez seria diferente.
Segundo Ronaldo, Rubro Negro mudou seu uniforme para um branco com detalhes em vermelho e preto, atrás apenas de publicidade. Mas agora ele teria um encontro com alguém que usasse verdadeiramente as cores brancas e negras. As cores da gangue de Ronaldo.
O jovem largou o peso de cem quilos de lado e andou até a parede de seu quarto, onde encarou as várias fotos de jornal do Rubro Negro em ação. Com um soco, provocou um rombo no concreto, esmagando uma foto.
- Agora é vez do Cruz de Malta.

Rubro Negro estava com seu uniforme original naquela noite fria e chuvosa. Porém, também usava um casaco por cima, porque era um tanto friorento. Ele havia conseguido um novo uniforme costurando ele mesmo os buracos. Levou um dia inteiro, mas foi bem sucedido. Além do mais, estava farto do uniforme branco.
Arrastando o último policial, o jogou sobre os outros três desacordados. Limpou as mãos e caminhou até os alvos daqueles homens da lei.
- Pronto. Esses corruptos não irão mais incomodar trabalhadores como vocês.
- Obrigado, Rubro Negro – um daqueles dois jovens eram repórteres negros de um jornal da comunidade da Favela do Jacarezinho. Eles investigavam um delegado corrupto que recebia propina do jogo do bicho e vendia armas para traficantes da região. Rubro Negro havia insistido e vigiar durante uma semana inteira aquela favela, pois queria achar pistas do paradeiro de Ricardinho. Não havia encontrado nada.
Depois dessa ação, ele sentiu orgulho de si mesmo. A noite já avançava e queria logo voltar para casa. Correndo pelas ruas desertas, não queria perder tempo na parada de ônibus. Correndo ele chegaria mais rápido em casa. Então, recebeu uma mensagem de texto no celular de Sofia. Marcava um encontro na noite seguinte.
“Maravilha, vou poder me desculpar do modo como a tratei aquela vez. Dar em cima descaradamente daquele jeito não é meu estilo, definitivamente.”
Rubro Negro ouviu um barulho de algo chocando em uma lataria. Bufou impaciente, e decidiu averiguar. Dobrou a esquina da Rua São Francisco Xavier com a Rua Luiz de Matos e viu Ronaldo.
Ele estava sobre o teto amassado de um carro. Vestia um casaco negro, fechado, luvas e coturnos negros e calças brancas. Sorria ansioso.
- Ronaldo? O que você tá fazendo aqui? – Rubro Negro não sabia o que esperar. Desde que a mesma fórmula que lhe deu poderes havia sido injetado em Ronaldo, Rubro Negro não sabia seu paradeiro. Não sabia o que esperar.
- A mesma coisa que você, Rubro Negro. Ou se importa se eu te chamar de... Arthur Ribeiro?
Rubro Negro arregalou os olhos, tremendamente assustado.
- Como é que é?
- Ah, você é mesmo um idiota quando quer, não é mesmo, Arthur? Quem diria, um idiota como você é o lendário Rubro Negro – Ronaldo sorria, mal continha sua enorme vontade de rir.
- Como você...?
- O problema é que o Ronaldo aqui não é o mesmo de antes. Depois daquele dia eu resolvi te caçar para o acerto de contas e vi que tu era muito previsível. Era óbvio que voltaria praquela favela. E é óbvio que eu te espionei. Tu foi muito descuidado. Tirou sua máscara num território em que patrulhava, não é mesmo?
- Ronaldo, seu idiota... – Rubro Negro sentia-se envergonhado por ter sido descoberto. Era um orgulho ferido.
- Eu larguei essa vida miserável que era ser Ronaldo. Agora – começou a abrir o zíper frontal de seu casaco negro – eu sou Cruz de Malta.
Ele tinha uma camiseta branca, sem mangas com uma faixa vertical negra e cruzada do ombro até o abdômen. Tirou do bolso do casaco uma máscara metade branca, metade negra. Assim que vestiu, não se conteve e gargalhou.

Rubro Negro não acreditava no que estava acontecendo. Será que Ronaldo havia enlouquecido? Será que ele tinha poderes? Só havia uma forma de saber. Ele correu em direção à Cruz de Malta e saltou sobre o carro, preparando um soco duplo. Cruz de Malta segurou seus dois braços na mesma hora, evitando o soco. O impacto do golpe fez a lataria do teto do carro afundar mais um pouco, fazendo os vidros se quebrarem. Definitivamente, Ronaldo/Cruz de Malta tinha super-força.
- Surpreso? – Cruz de Malta media forças com Rubro Negro, erguendo-o no ar, enquanto o teto do carro era afundado cada vez mais pelo peso de Cruz de Malta e a pressão dos dois.
Rubro Negro estava suando, usando toda sua força para tentar se livrar daquela imobilização. Mas não conseguia. O herói mascarado não parava de se surpreender. Cruz de Malta flexionou os braços, fazendo suas veias sobressaírem. Rubro Negro foi jogado pra cima.
- Parece que eu sou mais forte que você agora, molambo! – Cruz de Malta olhava pra cima, observando o vôo e a queda do Rubro Negro do meio da rua.
- Não conte com isso. – Rubro Negro se erguia e concentrava sua energia de plasma. Cruz de Malta saltou descendo do carro e cruzou os braços a dez metros de distância. Não largava o sorriso do rosto.
Rubro Negro disparou sua rajada de plasma, mas Cruz de Malta desviou para o lado facilmente. E riu daquilo. Rubro Negro já sentia dor de cabeça e enjoou por aquela risada. Cruz de Malta saltou sobre Rubro Negro desferindo um soco em seu rosto, fazendo-o girar no ar e capotar alguns metros no chão. Era um soco muito poderoso.
- Quero ver agora tu usar um dedo para se defender de um soco meu. – Cruz de Malta falava com rancor em sua voz. Aproveitou Rubro Negro no chão e lhe deu um chute na barriga o erguendo do chão. Nesse segundo erguido, Rubro Negro ainda recebeu um soco com as mãos juntas de Cruz de Malta, fazendo sua queda ao chão ser mais dolorosa. Sua cara provocou uma rachadura no asfalto.
Sem tempo de reação, Rubro Negro estava aturdido, sentido o mundo a sua volta girar. Cruz de Malta não parou, pisou em sua cabeça, aumentando a rachadura no asfalto. Rubro Negro lutava para não perder a consciência, então com uma mão segurou a perna de apoio de seu adversário. Fez um puxão, o desequilibrando. Nesse momento, ele rolou para o lado e se levantou do chão. Seu rosto estava com várias escoriações e sangue. Seu poder de cura começava a agir.
- Cruz de Malta, não é? Então é sobre isso que se trata? Uma briga de gangues?
- Se trata sobre eu e você, pequeno Arthur. Sobre tu ferrar com minha vida e minha vingança. Agora eu tenho poder para isso.
- Infelizmente, pra você, eu não vou perder.
Rubro Negro canalizou toda sua energia em suas mãos e disparou uma poderosa rajada de plasma. Cruz de Malta juntou suas duas mãos e disparou uma rajada de plasma idêntica, para a surpresa de Rubro Negro. As duas energias se chocaram, provocando uma poderosa ventania em volta. Os dois poderes se anularam.
- Tu vai me pagar. Mas eu vou aproveitar essa vingança vagarosamente... – Cruz de Malta soltou uma gargalhada e apontou para um ônibus que vinha pela rua. Disparou um raio nele, fazendo tombar. Rubro Negro correu para o ônibus a fim de socorrer as pessoas. Ele ficou aliviado de haver apenas quatro pessoas. As retirou e afastou dali, antes da explosão do ônibus.
Olhando para os lados, não viu mais Cruz de Malta. Rubro Negro estava assustado.

No dia seguinte, Arthur estava sentado em sua cama. Havia dormido poucas horas, pois estava muito preocupado. Ronaldo sabia de sua identidade secreta e possuía poderes. Aquela fórmula injetada realmente lhe garantiu poderes iguais aos dele. Arthur decidiu que iria procurar saber onde estava Ronaldo. Não podia perder mais tempo.
Saindo de casa, pegou um ônibus para a Avenida Presidente Vargas. Uma vez lá, pegaria um ônibus que passasse pela Linha Vermelha. Ele sabia que Ronaldo morava em algum ponto de lá. Sua pesquisa pela internet não lhe foi mais específica que isso.
“Ele pode estar em qualquer lugar. O cara pirou totalmente, só quer saber de vingança. Pode estar me seguindo e eu não vou saber. Que merda, deveria tê-lo jogado na cadeia quando tive chance”.
Arthur desceu do ônibus e foi até um canto sujo e escondido. Havia decidido que era melhor continuar a viagem como Rubro Negro, para ser mais rápido. Era arriscado sair de dia, mas abriria essa exceção nesse momento difícil. Tirou sua camisa mundana e calças jeans. Colocou sua bota negra, suas luvas e suas ombreiras, guardando a roupa comum na mochila.
- O que as pessoas pensariam se soubessem quem é o Rubro Negro? – Ronaldo estava na entrada do canto sujo e escondido. Estava com sua roupa de Cruz de Malta, sem a máscara. Assim que Arthur pôs a sua, Ronaldo fez o mesmo. Eram Rubro Negro e Cruz de Malta agora.
- O que você vai fazer? – Rubro Negro correu na direção dele.
Cruz de Malta apenas correu para longe também. A perseguição foi demorada. Ambos possuíam grande velocidade e correram pela movimentada Avenida Presidente Vargas, desviando de carros. Os motoristas tiveram dificuldades e logo o trânsito ficou complicado. Alguns carros batiam em postes ou subiam as calçadas. Outros batiam entre si, capotavam. Rubro Negro tentava alcançar Cruz de Malta a todo custo, corria desesperadamente. As coisas estavam ficando feias naquela avenida. Cruz de Malta subiu em um ônibus com um salto e depois se jogou contra o prédio das Industrias Heiner. Rubro Negro saiu da rua, para tentar evitar maiores problemas às pessoas.
Entretanto, o problema maior estava por vir. As pessoas começaram a sair de seus carros. Os pedestres se aglomeravam para ver aquela briga digna de cinema. Cruz de Malta subia o prédio, escalando pelas janelas em direção à cobertura. Rubro Negro decidiu segui-lo e vez os mesmos movimentos. Descobriu que tinha menos capacidades físicas. Seu salto do ônibus para o prédio foi muito difícil, quase que caiu.
Ambos chegaram ao topo do prédio e se encararam. Rubro Negro estava cada vez mais perdido. Ambos correram em direções opostas, saltaram e se chocaram com violência. Um chute de Rubro Negro encaixou no queixo de Cruz de Malta, que por sua vez acertou um soco no peito. Ambos caíram. Rubro Negro constatou o poder de cura de seu adversário vendo a escoriação na boca regenerar. Ambos desferiram uma série de golpes entre si, mas Rubro Negro levou a pior. Cruz de Malta era mais forte e sabia brigar melhor. Rubro Negro, então, foi agarrado e apertado. Cruz de Malta correu com Rubro Negro agarrado e o jogou contra o concreto do terraço do prédio. O vigilante mascarado ficou aturdido, tempo suficiente para seu algoz lhe arrancar a máscara e jogar lá embaixo.
A multidão se aglomerava. Um curioso apontou para a máscara do Rubro Negro que acabara de cair. Houve uma explosão de celulares com câmeras tentando focalizar a luta dos dois. Cruz de Malta ergueu o então agarrado Rubro Negro e o expôs para as pessoas lá embaixo. Rubro Negro, sem sua máscara, olhava para baixo espantado. Preocupava-se com sua identidade secreta e em manter a consciência. Se alguma daquelas câmeras focasse direito, ele estaria acabado.
Rubro Negro se concentrou e disparou seu poder de explosão. Uma grande luz ofuscou todas as lentes e arremessou Cruz de Malta e Rubro Negro lá pra baixo. Cruz de Malta parecia aturdido com a explosão. Rubro Negro estava sentido seus músculos fadigados, mas não foi o suficiente para impedir que se agarrasse no concreto estreito do prédio. Cruz de Malta se chocou no chão, causando um grande buraco. Antes que alguém chegasse muito perto, ele se levantou ainda zonzo e constatou que Rubro Negro não estava mais lá.

Arthur chegou em casa alucinado. Chutou uma cadeira e levou as mãos à cabeça, desesperado. “O que eu vou fazer? Estou perdido! Esse cara pode aparecer pros meus pais, pros meus amigos e...” Num estalo, lembrou que sairia com Sofia naquela noite. Ligou para ela para tentar desmarcar, mas não conseguiu: celular fora de área. Preocupado, Arthur foi aos Arcos da Lapa à noite. Haveria um show e Sofia estaria lá.
No inicio da noite, chegando ao local, ele encontrou muita gente, como era de se esperar. Tentando localizar Sofia pelo celular e pelo contato visual, Arthur tinha uma cara de pânico. Esbarrou com ela sem querer.
- Desculpa o atraso, Sofia, tive alguns problemas.
- Não se preocupe, Arthur. Ei, sabe quem encontrei aqui? O Ronaldo, lembra dele?
Ronaldo aparecia com duas garrafas de cerveja. Entregou uma à Sofia e bebeu da outra.
- Olá, Arthur. Há quanto tempo, heim. – piscou o olho descaradamente.
Arthur o empurrou na hora. Segurou a mão de Sofia e a arrastou dali. Ela ficou confusa, mas o seguiu.
- O que está fazendo, Arthur? – perguntava.
- Precisamos ir. – respondia Arthur, seco.
- Mas vão perder o show – disse Ronaldo, em tom irritantemente irônico.
Os dois se afastaram dos Arcos da Lapa.
- O que está acontecendo, Arthur?
- Ronaldo está esquisito. Eu te explico depois. Vamos sair daqui, eu te levo pra casa.
Pegaram um ônibus. Arthur viu, da janela, Ronaldo de braços cruzados no ponto com um largo sorriso.
- Arthur, me explica!
- Sofia, você confia em mim?
- Bem, sim... – disse receosa.
- Então faça o que eu digo e não me faça perguntas, por favor. – normalmente Sofia se revoltaria com a proposta. Determinada e dona de si, ela insistiria até conseguir o que queria. Mas naquele momento, resolveu aceitar as coisas do jeito de Arthur.

Depois de levá-la em casa, sem maiores problemas, Arthur decidiu que aquele dia tinha que acabar logo. Voltou para casa. Viu sua mãe acordada assistindo televisão na sala. Seu pai já estava dormindo. Depois de uma rápida troca de palavras, o interfone tocou. Arthur gelou. Será que Ronaldo havia descoberto onde ele morava? Atendeu e constatou o pior.
- Olá amigo. Em casa a essa hora? – era ele.
- Ronaldo – percebeu que sua mãe apareceu ao seu lado – bem, vamos conversar amanhã.
- A noite é uma criança, Arthur. Pegue-me se puder. – desligou.
Arthur não teve escolha. Foi para o quarto e vestiu seu uniforme com uma máscara reserva. Foi para a janela e desceu o seu prédio pelo lado de fora. Viu Ronaldo como Cruz de Malta na Rua Voluntários da Pátria. Rubro Negro correu até ele. Era final de noite e os carros começaram a rarear. Foram parar no metrô de Botafogo. Uma vez lá, Cruz de Malta parou de correr. Virou-se contra Rubro Negro e partiu para a briga. Ambos trocaram socos, chutes poderosos. Um golpe errado, acertava uma parede e a destruía. Rubro Negro saltava para trás, tentando evitar o confronto direto, pois Cruz de Malta era mais forte e poderia agarrá-lo de novo. Disparou uma rajada de plasma em cheio em Cruz de Malta, jogando-o contra a parede. Ele fez um grande buraco nela. Um metrô passou por eles e Rubro Negro saltou sobre ele.
- Vem me pegar, seu filho da p...
Cruz de Malta saltou sobre o metrô também. Ambos se ergueram sobre o vagão em movimento e se socaram. Rubro Negro estava mais concentrado, encaixava mais golpes. Entretanto, o poder de regeneração de ambos tornava a luta prolongada demais. Rubro Negro tentava pensar em um jeito para parar todo aquele inferno. O que fazer para impedir Ronaldo? Conversar com alguém insano não era a melhor saída.
Várias estações depois, na Cinelândia, Rubro Negro disparou sua rajada de plasma num momento crucial e o jogou para longe. Saltou sobre Cruz de Malta com os dois pés no peito. Seu adversário voou contra a parede. Sem tempo para reagir, Rubro Negro o imprensou na parede. Com o cotovelo no pescoço, prendeu Cruz de Malta. Com a outra mão, socava seu abdômen, suas costelas. Cruz de Malta ficou aturdido e sentiu algum osso quebrar.
Rubro Negro encostou suas mãos no peito de seu adversário e disparou uma rajada de plasma a queima-roupa. Foi uma grande explosão, que fez a parede ser destruída. Cruz de Malta caiu do outro lado da estação. Ele se levantava, rindo e cuspindo sangue e com sua camisa destruída. A máscara estava em frangalhos também.
- Finalmente lutando que nem homem. Mas você sabe, eu curo meus ferimentos como você. Vamos lutar eternamente. Ou até você morrer.
Rubro Negro correu dali, pela Avenida Rio Branco. Dobrou na Avenida Beira-Mar e seguiu em direção ao Aeroporto Santos Dumont. Cruz de Malta o seguia. De repente, eles ouviram sirenes de polícia. As coisas estavam ficando piores para Rubro Negro. Chegando ao aeroporto, adentrou sem cerimônia. Destruiu a fachada de vidro e entrou na pista de decolagem dos aviões. Cruz de Malta disparou um raio de plasma e jogou Rubro Negro longe, que capotou pela pista. Havia alguns aviões ali, alguns deles prestes a decolar.
Erguendo-se do chão, Rubro Negro não conseguiu desviar de uma joelhada nas costas. Rolou no chão mais uma vez. Olhou para o céu e agradeceu a Deus porque via um avião chegando. Cruz de Malta correu na direção de Rubro Negro, que ainda estava no chão. O agarrou e o apertou. Rubro Negro sentia seus músculos apertados, seus ossos esmagando. Precisava se manter consciente, precisava que seu plano desse certo. Rezava para ninguém sair machucado.
A polícia cercou o aeroporto e impediu qualquer decolagem. Mas não podia impedir o iminente pouso de um avião. Rubro Negro se concentrou e usou toda sua força para se soltar ao agarro de seu adversário. Cruz de Malta se surpreendeu com a força de superação de seu adversário. Rubro Negro correu em direção do avião que vinha.
Cruz de Malta saltou sobre Rubro Negro. O vigilante se jogou no chão e chutou com os dois pés o abdômen de seu adversário, fazendo uma alavanca, o jogando sobre o avião.
Cruz de Malta fez uma careta e foi atingido em cheio bico do avião. Era uma cena terrível. Rubro Negro se levantava com dificuldades se perguntando se havia matado seu rival. Não era isso que ele queria, mas era o único modo de conseguir fazer seu adversário perder a consciência. A velocidade do avião em terra foi diminuindo e Cruz de Malta caiu desacordado na pista.
A polícia fez o cerco. Rubro Negro teve que bater em alguns policiais e destruir uma viatura para fugir. Cruz de Malta, entretanto, fora preso.

No dia seguinte, Arthur via as notícias. Ronaldo estava preso por invasão de pista no Aeroporto Santos Dumont. A polícia o havia encontrado sem camisa, jogado na pista com graves ferimentos. Não se sabia como ele conseguiu sobreviver ao acidente que teve. Ao que tudo indica, ele havia entrado num estado de insanidade amnésica. Quando perguntado, alegava que não se lembrava de nada. Será verdade?
“Consegui vencer meu maior adversário até hoje. Ninguém percebeu que ele era o Cruz de Malta porque seu uniforme tava destruído. Sorte a dele. Azar o meu. Daqui pra frente, terei mais cuidado em tirar minha máscara por aí.”

terça-feira, 6 de julho de 2010

Rubro Negro #8 - O Uniforme Branco: Parte 2


Rubro Negro corria pela noite do Rio de Janeiro, pela Rua do Catete. Era um domingo de julho e poucas pessoas andavam pelas ruas. Entretanto, as pessoas em seus apartamentos fechavam as janelas quando viam a movimentação do vigilante mascarado em sua nova roupa branca. Havia helicópteros da polícia marcando seus passos. Porém, a velocidade de Rubro Negro era assombrosa. Correndo pela reta Rua do Catete, ele podia alcançar a incrível marca de 36 quilômetros por hora.
“Maldito Heiner e sua porcaria de recompensa! Não tenho nenhum sossego para investigar o paradeiro de Eduardo Acco! Eu nem posso me mexer que tem sempre alguém querendo me pegar”.
Correndo, teve um enorme susto quando passou pela esquina da Rua do Catete com a Rua Buarque de Macedo. Desviou a tempo de um mecanismo metálico que causava choque, preso a uma corda que foi disparado por uma arma. Era um grupo de homens com coletes a prova de balas e equipamentos de captura. Sem nenhum distintivo ou símbolo aparente, Rubro Negro presumiu que eram mercenários em busca da recompensa.
- Vocês não se mancam? O Rubro Negro Dois é invencível!
Um deles atirou com sua arma. Uma corda de aço flexível presa à duas esferas de metal. Parecia uma boleadeira moderna. Rubro Negro não conseguiu desviar e ficou preso. Os homens soltaram sorrisos triunfantes. Cedo demais.
- Boa tentativa. – Rubro Negro usou toda sua força e arrebentou a corda de aço flexível.
- Agora é minha vez. – Correndo na direção deles, aqueles mercenários não foram adversários à altura. Rubro Negro bateu até todos desmaiarem. Controlou sua força, pois estava receoso.
“Agora, vou direto à fonte dos meus problemas”.

Ronaldo recebia sua carta de demissão. Amassava o papel e gracejava impropérios sobre como era ruim trabalhar naquela emissora de televisão. A verdade era que ele estava perdendo o controle de tudo. Se continuasse assim, não poderia continuar a faculdade. Queria aproveitar as férias de julho para se concentrar em trabalhos, mas, para ele, Rubro Negro sempre aparecia na hora errada para estragar tudo.
Queria por um fim nisso. Comprou um jornal na banca a fim de procurar um novo emprego e acabou lendo a notícia da recompensa de um milhão de reais pela captura do Rubro Negro. Sorriu como nunca.
- Que ironia. Você me fará um homem rico, Rubro Negro.
Pegando um celular, ligou para sua gangue.

Na Avenida Presidente Vargas, no prédio das Industrias Heiner, Francisco Heiner recebia o contato de mais um grupo de mercenários interessados em capturar Rubro Negro. Em uma semana, ele havia recebido dúzias de grupos e já estava começando a ter alguma dor de cabeça com isso. A polícia não estava gostando daquilo, mas com o suborno certo, os segurava. Pelo menos por enquanto.
Entretanto, quando soube o nome de quem vinha vê-lo, resolveu que aceitaria ajudá-los. Era Ronaldo e sua gangue.
- Então você lembra de mim, senhor Francisco Heiner.
- Sim, como poderia esquecer? Você foi capturado por engano por meu antigo empregado e jurou que não prestaria queixa. Quer que eu retribua seu favor agora, não é mesmo?
- Acertou em cheio. Quero que você equipe a mim e meus amigos aqui. – ele sorria. Já sentia o gosto do triunfo na captura de seu rival.
Nesse exato momento, Rubro Negro apareceu. Estava de braços cruzados, encostado na janela, desleixado.
- Um fã clube pra mim? Ah, que máximo.
Ronaldo e seus amigos de gangue se assustaram. Rubro Negro estava realmente com uma roupa diferente e parecia terrivelmente mais ameaçador. Eles haviam lido nos jornais que o vigilante mascarado havia invadido uma favela e espancado seus moradores.
- O que veio fazer aqui, seu criminoso? – Francisco apontava o dedo para Rubro Negro. Coragem ou imprudência?
- Quero que você tire essa recompensa pela minha captura, ou... – Rubro Negro falava enquanto caminhava, em tom ameaçador.
- Ou o que? Você irá me matar?
Rubro Negro parou de andar. Ergueu a mão e apontou para uma parede. Disparou um raio de plasma, fazendo um enorme buraco.
- Não sou um assassino, tão pouco criminoso como você e os poderosos acham. Eu vou trazer de volta Eduardo Acco e ele provará minha inocência.
Ronaldo caminhava em sua direção, sério, com expressão de fúria contida.
- Você vem arruinando minha vida, mascarado de merda. Não adianta se esconder numa roupa branca. Eu vou te caçar.
- Não espero que tu conte a verdade, Ronaldo. Tu me viu tentando salvar o cientista daqueles traficantes de fuzis e bazucas. Mas prefere ocultar a verdade para poder se vingar de mim. Tu põe a culpa em mim por teus erros e fracassos. Dá um tempo, perdedor.
Ronaldo rangeu os dentes, irado. Correu em direção de Rubro Negro com o punho fechado. O herói mascarado ergueu um dedo e segurou todo o soco dele, sem se mover. Era humilhação demais. Rubro Negro deu as costas ao atônito Ronaldo.

Enquanto isso, numa favela do Complexo do Alemão, Ricardinho visitava Eduardo Acco. O cientista estava imundo com roupas sujas e barba por fazer. Era um trapo humano. Ricardinho fazia sua terceira visita na semana.
- Nada ainda? Espero que não esteja me enrolando.
- Eu estou no final da experiência. Eu pude analisar algumas anotações perdidas de Gabriel Soares e descobri que posso fazer uma réplica exata da fórmula que ele desenvolveu.
- Excelente.

Rubro Negro estava no terraço de um prédio da Avenida Rio Branco, pensativo. Sua mãe havia ligado quatro vezes e Sofia uma. Ele resolveu que não voltaria à identidade de Arthur enquanto não resolvesse o caso e limpasse seu nome. Concentrou-se na questão.
“Quem eu posso recorrer que tenha informações?” foi quando lhe ocorreu um nome: tenente Vanessa.
A tenente estava cuidando de papeis em seu escritório quando recebeu o telefonema do Rubro Negro.
- Preciso de sua ajuda de novo.
- Rubro Negro? Mas por que eu o ajudaria? Até onde eu sei, é um homem procurado por seqüestro.
- Ora, eu te vi me defender na televisão uma vez. Quero que acredite em mim. Sou inocente. – silêncio no telefone.
- Eu acredito. Nunca gostei de Francisco Heiner mesmo, desde o incidente com os andróides.
- Obrigado. Fico te devendo essa.
Eles se encontraram à noite, na Praça da República. Falaram sobre o que sabiam, cruzaram informações.
- Então essa fórmula é a mesma que lhe deu esses poderes?
- Isso mesmo.
- E você disse que foi capturado por Ricardinho para ser uma cobaia do projeto dele de criar super guerreiros?
- Isso mesmo.
- Isso é incrível. Eu tenho informações de incidentes no dia em que você disse ter ganhado seus poderes. Pessoas na favela que testemunharam a presença de um homem com esferas de luzes vermelhas nas mãos. Era você?
- Provavelmente. Olha, vou parar de dar informações, pois eu tenho uma identidade secreta a zelar.
- Tudo bem, eu respeito isso.
- Que favela era essa? Eu meio que não me lembro de onde eu fugi. Era noite, chovia e eu estava assustado demais.
- Favela do Jacarezinho.
Rubro Negro arregalou os olhos e deixou a boca pender. Finalmente ele havia encontrado a maior das pistas para achar Ricardinho. Ele finalmente poderia levar aquele chefe do tráfico para a cadeia. Ficou ansioso em agir. Se despediu da tenente e pediu para que a polícia evitasse aquela região naquela madrugada, ou as coisas poderiam ficar mais difíceis. Rubro Negro queria agir sozinho.
- Como eu saberei que você não irá matar ninguém? Ou Ricardinho?
- Eu posso ter sido um idiota quando quase matei aqueles criminosos, mas eu sei assumir um erro quando cometo. Prometo não machucar muito ninguém. – Acenou e correu dali.

Ronaldo e sua gangue estavam com um aparelho que media a quantidade de energia de plasma no ambiente, Ronaldo capturou um sinal se movendo numa grande velocidade. Era Rubro Negro, com toda certeza. Seguindo sua trilha num furgão negro com uma faixa branca no teto, símbolo de sua gangue, eles encontraram Rubro Negro se aproximando da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, no bairro Maracanã.
Com uma granada, Ronaldo mostrou seu cartão de visitas. Rubro Negro voou metros com a explosão, no meio da rua. Erguendo-se com rapidez, começou a concentrar energia em suas mãos, com dentes rangidos.
- Ronaldo e sua gangue, há muito eu esperava por esse momento. Desejava muito que vocês ficassem no meu caminho. Vou surrá-los até dizer chega.
Rubro Negro disparou seu raio de plasma sobre o furgão. O raio atingiu o motor e fez o automóvel explodir. A gangue saiu antes que explodisse inteiramente. Todos tinham coletes tecnológicos e óculos de visão noturna. Alguns tinham rifles de laser, outros tinham armas de captura. Ronaldo atirou sem parar com o rifle, obrigando Rubro Negro correr para o estacionamento da universidade. Todos o seguiram, jogando granadas. O herói teve dificuldades de escapar, mas com um super salto, atravessou a grade do estacionamento. Uma saraivada de tiros o atingiu, furando seu uniforme branco. Laser, aparentemente, penetrava colete a prova de balas.
Rubro Negro deitou-se atrás de carros, usando como barreira. Erguia-se de vez enquando para atirar com seu raio de plasma. Recebia uma saraivada de lasers em resposta. Era um tiroteio complexo. Ronaldo, então, abriu mão de seu rifle e pegou um lança-míssel. O tiro explodiu o carro e fez Rubro Negro voar, bastante ferido. Caído no chão, ele não se movia.
A gangue se aproximou com armas apontadas. Cercaram o herói formando um circulo. Sorriam felizes pelo milhão que receberiam. Então, Rubro Negro abriu os olhos rapidamente.
- Caíram como patinhos.
Ele liberou sua energia de plasma que envolveu todo seu corpo. Num estouro de energia, todos foram atingidos, inclusive alguns carros em volta. Uma grande luz vermelha pode ser observada quilômetros dali.
Todos estavam no chão, feridos. Rubro Negro cambaleou entre eles e segurou Ronaldo, semi-desmaiado, pelo colarinho.
- Eu não quero mais encrencas. Melhor tu cuidar da tua vida, ou da próxima vez, eu te mando pra cadeia. Entendeu?
Ronaldo rangia os dentes, incapaz. Foi jogado no chão e assistiu Rubro Negro, o maior inimigo de sua vida, caminhar para fora dali. Não iria deixar que ele escapasse.

Era uma casa no topo de um morro da Favela do Jacarezinho, com vista para um rio. Na sala principal, uma mesa posta com comida, homens discutiam os preços da fórmula do geneticista Eduardo Acco. Ricardinho guiava os lances, arrogante. Estava prestes a se tornar num homem tão rico quanto um presidente da República.
Rubro Negro escalava o morro onde não era habitado, por ser a parte mais íngreme. Estava cansado, pois o efeito de explosão lhe custava grande quantidade de energia e ele ainda nem havia conseguido parar para descansar. Escondeu-se em arbustos próximo à maior casa do morro. Viu vários seguranças vigiando o lugar. Todos com armamentos pesados.
“Traficante aqui é preparado pra guerra.”
Antes que fizesse alguma coisa, uma arma lhe foi apontada na cabeça. Ele sorriu e ergueu as mãos pra cima. Outros seguranças apareceram exibindo suas armas roubadas ou compradas de militares e guiaram Rubro Negro. Certamente iriam matá-lo. Um deles até tinha um celular para filmar tudo e ficar famoso. Mas antes que fizessem algo, Rubro Negro decidiu arriscar seu poder de explosão novamente. Concentrou sua energia com dificuldade, mas conseguiu emanar a explosão. Todos os seguranças voaram longe e deixaram o caminho para a porta da frente livre.
O traficante e seus compradores ficaram nervosos, mandaram seus próprios seguranças ficarem próximos a eles, apontando armas para a porta de entrada. Depois do murmurinho, silêncio. Eles começaram a ouvir passos lentos de alguém se aproximando. Eduardo Acco suava, sentia que poderia ser sua chance de escapar. Ricardinho já sabia quem iria aparecer.
A porta foi arrombada com um raio de plasma vermelho. Através da fumaça, aqueles homens viram a silhueta dele. Rubro Negro apareceu.
- Ricardinho.
- Rubro Negro.
- Não faz idéia do que passei para chegar até aqui.
Rubro Negro estava exausto. Usar seu poder explosivo duas vezes em pouco tempo o esgotou quase completamente. Estava à beira de um colapso. Tinha dificuldades de andar ou se mover. Apenas a pura força de vontade o mantinha de pé.
Todo mundo que possuía armas naquele momento apontou para Rubro Negro. Alguém gritou para atirar e todos obedeceram. Uma barulhada sem fim chamou atenção para todos na Favela do Jacarezinho. Alguém chamou a polícia e a tenente Vanessa nada pode fazer mais para impedi-los. Ronaldo, que seguia Rubro Negro, encontrou o lugar onde deveria ir.
Na sala todos estavam agora sem munição. Porém, ninguém se atrevia se aproximar um centímetro de Rubro Negro, estatelado no chão. Todos sentiam medo daquele homem por trás da máscara. Não importava sua identidade, apenas o que ele representava. E naqueles dias, Rubro Negro com o uniforme branco não estava para brincadeiras. Todos sabiam de seu poder de cura, mas rezavam para que os tiros tivessem sido capazes de detê-lo. Foram vários tiros de vários tipos de armas. Poucos erraram a mira. Aquele homem não poderia sobreviver.
Mas sobreviveu.
Rubro Negro se levantou ainda exausto, mas com seus ferimentos se regenerando numa velocidade que nem ele mesmo estava acostumado. Ele mirou seu olhar para todos. Um a um. Havia fúria naqueles olhos. Sua máscara estava furada em vários pontos, mas ainda guardando sua identidade.
- Minha vez.
Rubro Negro se moveu na direção daqueles bandidos com muita velocidade. Ainda que exausto, com sua velocidade reduzida a menos da metade, era o suficiente para eliminar o espaço que havia entre eles. Subindo na mesa de reuniões, chutou a cara de um ou dois capangas. Alguém o puxou pelo braço o obrigando a descer. Outro tentou segura-lo numa chave de braço. Outros dois agarraram seus braços. Um pegou um soco inglês e desferiu um golpe no peito dele.
Nada daquilo adiantou. Rubro Negro se deixou pegar porque decidiu que não valia a pena gastar o pouco da energia que tinha para desviar daqueles golpes inofensivos. Com um movimento de braços, chocou os dois homens que os seguravam. Depois pegou o braço em volta de seu pescoço e arremessou seu dono sobre a mesa. Desferiu um soco que nocauteou na hora o homem com soco inglês. Os chefes compradores se afastaram e ficaram acuados num canto da sala.
Ricardinho continuava de pé, frente sua cadeira, com Eduardo Acco ao seu lado. Uma pistola leve estava apontada nas costas do geneticista.
- Deixe-o ir. Sua briga é comigo.
- Não me tire pra burro, Rubro Negro. Eu sei que não tenho chances contra você. Esse homem é minha garantia de saída daqui.
- Eu vou te achar, Ricardinho. Eu vou te pegar. Não adianta se esconder como um rato.
- Enquanto isso será caçado e considerado fora-da-lei. Assim como eu. Não é irônico? – ele se afastava para perto da janela com o geneticista rendido.
Então, algo verdadeiramente irônico aconteceu: Ronaldo apareceu por outra porta lateral, entre Ricardinho e Rubro Negro. No segundo de distração de Ricardinho, o geneticista aproveitou para se afastar cerca de 30 centímetros. Rubro Negro disparou uma rajada de plasma que atingiu o peito em cheio. Ricardinho desabou no chão, aturdido.
Ronaldo pegou uma cadeira e partiu para cima de Rubro Negro. Geralmente, o vigilante mascarado não sentiria nenhum abalo com um golpe daqueles, mas estando exausto, ele sentiu seus joelhos fraquejarem. Rubro Negro caiu com a cadeira quebrada sobre sua cabeça. Ronaldo sorria, pois parecia que tinha vencido seu inimigo. Eduardo Acco viu sua chance de fugir daquele mundo de loucos. Pegou a fórmula que estava numa injeção e tentou correr para a porta onde Ronaldo havia aparecido.
O traficante Ricardinho conseguiu se concentrar e atirou na perna do geneticista, para tentar evitar que ele fugisse. Eduardo Acco caiu e acabou espetando o braço de Ronaldo. Todos arregalaram os olhos e focaram o olhar no jovem estudante. Ronaldo começou a sentir-se mau. Cambaleou como um doente.
- O que tu fez comigo? Eu vou morrer!
Ronaldo se desesperou e saiu correndo pela porta de onde veio. Fugiu para longe. Rubro Negro se ergueu com sérias dificuldades e, antes que Ricardinho atirasse novamente, chutou a arma para longe.
- Acabou, Ricardinho.
- Não.
Um dos seguranças ferido apareceu e jogou uma granada no peito do Rubro Negro. Uma explosão tomou conta da sala.

Rubro Negro abria os olhos. Percebeu um monte de madeira, pedra e outros entulhos jogados sobre si. Estava soterrado e já era dia. Percebeu que seus ferimentos estavam fechados e, pelo desmaio, conseguiu descansar o suficiente. Usou de sua super-força para sair dos escombros. Viu bombeiros e policiais. Decidiu que não podia mais fazer nada ali. Com o trapo de roupa que lhe restou, fugiu para casa.
Arthur jogou fora os restos do uniforme branco num lixo próximo à Rua São Clemente, em Botafogo, já perto de casa. Naquela manhã fria, pouca gente estava na rua. Caminhou apenas de short de pijamas e botas negras do uniforme até em casa. Usando suas chaves com muito silêncio, conseguiu chegar até seu quarto sem ser percebido pelos pais.
Depois de ficar acompanhando as notícias pela internet por horas, viu o que queria. Eduardo Acco estava vivo e desmentiu que havia sido seqüestrado pelo Rubro Negro, mas sim pelo traficante mais procurado do Rio de Janeiro: Ricardinho. Arthur sorriu e sentiu um peso sair de suas costas. Estava muito aliviado.

Em sua casa, Ronaldo acordava depois de passar mal a noite inteira. Dessa vez, não sentia nenhuma dor. Pelo contrário, estava se sentindo muito bem. Bem até demais...

Continua...