terça-feira, 20 de julho de 2010

Rubro Negro #12 - Triminator: Parte 2


Rubro Negro erguia-se olhando rapidamente a sua volta e viu que aquele andar não iria agüentar nenhum minuto. As estruturas foram bastante abaladas pelos raios lasers de Triminator. Desesperado, correu o máximo que pôde até o outro lado do andar, até uma janela onde se jogou no exato segundo que o andar desabava.
Caindo no chão com violência de uma altura de quase dez metros, ele rolou até o meio da rua. Carros desviaram e outros bateram entre si. Rubro Negro sentia suas pernas bambas. Triminator contornou o prédio e riu da desgraça do vigilante mascarado. Apontou novamente com sua arma e disparou vários tiros. Rubro Negro superou o cansaço e correu desviando de ambos. Os tiros rasparam em sua roupa. Saltou rapidamente sobre um caminhão de lixo, procurando se esconder. O sol aparecia com seus primeiros raios naquele momento.
- Você é a escória, Rubro Negro. Acha que pode se esconder no seu habitat natural?
Atirou no caminhão de lixo, acertando o tanque de gasolina. Explodiu em mil pedaços. Rubro Negro era arremessado violentamente sobre um carro, quebrando alguns ossos. Ele se jogou no chão e se arrastou para debaixo do automóvel.
- Isso mesmo! Rasteje, Rubro Negro! E morra!
Com vários tiros, Triminator explodiu o carro. Nesse momento a fumaça cinza subia os céus. Será o fim?

Um pouco antes do almoço, Francisco Heiner comia sobre sua mesa do escritório. Preocupado, só conseguia pensar se seu filho estava bem, se fizera certo em fazer um novo acordo com o Triminator.
- Francisco Heiner. O que está acontecendo? – era Rubro Negro.
- O que? Você não pode ir entrando assim...
Rubro Negro segurou o empresário pelo colarinho e o ergueu do chão.
- Não tô aqui pra brincadeira, Heiner. Por que aquele Triminator raptou seu filho? Ele é seu inimigo? Ele roubou seus equipamentos? E não tente me enganar que eu sei que tu fabrica essas porcarias pois já armou uma gangue para me caçar.
Sem muita escolha e vendo que Rubro Negro já sabia de muita coisa, por isso não tinha como esconder muita coisa. Ele decidiu contar meias verdades.
- Eu paguei bastante para ele, por isso meia-noite de hoje ele me trará de volta meu filho.
Rubro Negro arregalou os olhos, surpreso. Muita sujeira entre esses dois. E, pra variar, Rubro Negro foi jogado no meio disso tudo. Ele se sentiu muito incomodado, uma marionete. Quando iria voltar a resolver os pequenos casos?
- E tu confiou no Triminator?
- Não tive escolhas.
- Então meia-noite eu estarei aqui para averiguar se saiu tudo como deveria.
Rubro Negro foi embora logo em seguida.

Na aula, Arthur bocejava enquanto coçava seus olhos que tinham grandes olheiras. Larissa sentou-se ao seu lado.
- Que cara de quem não dormiu. Farreou muito ontem?
- Um pouco. Mas tu não soube de nada? Um bandido seqüestrou um playboy na chopada.
- Verdade? Que coisa. Ainda bem que não gosto de chopadas. E você deveria estudar mais ou o professor Cardoso vai encrencar pro teu lado.
- Nem me fale – Arthur lembrou que tinha leituras para a bolsa de estudos atrasadas. Bocejou mais uma vez e percebeu que não conseguia parar de pensar na ação que teria meia-noite. Precisaria dormir agora para ter energias de noite.
Depois da aula, ao invés de ir para a Biblioteca Nacional, ele foi para casa. Deitou sobre sua cama e apagou.

Na Barra da Tijuca, onde o deputado Aloísio Mendonça morava, havia uma reunião entre ele e Triminator. Estavam numa sala fechada, blindada e cheia de seguranças fortemente armados. Aloísio Mendonça não confiava em Triminator. Mas também, não podia.
- Então, você acha que Francisco Heiner irá vender sua empresa para mim? – Aloísio estava com seu melhor terno naquela noite. Estava preparado para anunciar imediatamente a compra da empresa e seus novos rumos.
- Acho que ele venderá sua empresa sim. Mas será para mim. – mostrando todos seus dentes ao sorrir, Triminator sacou sua arma e atirou no ombro do deputado. Este caiu desacordado. Os seguranças começaram o tiroteio. Porém, Triminator era imune àquelas balas. Seu corpo era protegido pelo seu cinto de campo de força que lhe garantia uma resistência sobre-humana.
- Meu turno, rapazes. Morram todos.
Triminator começou a chacina. Atirou para matar, sem ouvir os pedidos de misericórdia que alguns daqueles seguranças emitiu antes de conhecer a própria morte. A sala banhou-se em sangue. Quando se voltou para dar o golpe definitivo para acabar com a vida do deputado, Triminator notou que ele havia sumido.
- Maldito deputado. Mas não importa, depois dou um jeito nele. Hora de tratar de negócios.

O dia passou mais rápido do que se imaginava. Arthur acordou algumas vezes para comer alguma coisa e até tentou estudar. Porém, sua cabeça estava em Triminator e Francisco Heiner. Recebeu uma ligação de Sofia. Atendeu, mas receoso.
- Onde você esteve? Sumiu novamente?
- É que eu tive que... voltar pra casa.
- O que? E me deixou sozinha lá na chopada depois que aquele homem voador apareceu?
- Foi urgente. Meus pais ligaram e eu tive que voltar.
- E nem se despediu? Você está mentindo, Arthur. É a segunda vez que isso acontece. Espero que você me conte a verdade.
- Mas eu tô – engoliu seco – falando a verdade.
- Se é assim que prefere, tudo bem. – desligou.
“Puta que pariu, cara. Só me fodo nessa merda. Ser Rubro Negro acaba com minha vida social. Como sempre!”
Assim, a noite chegou.

Francisco Heiner estava em sua empresa. Gostava de ser o primeiro a entrar e o último a sair. Mas naquela noite em especial, aguardava um desfecho favorável. Rubro Negro talvez tivesse razão e talvez não tivesse sido uma boa idéia confiar em Triminator. E agora?
O telefone tocou o tirando de seus pensamentos sombrios. Era Triminator.
- Senhor Heiner?
- Triminator, o que aconteceu?
- Aconteceu que as coisas não seguiram seu rumo. Eu quero que venda sua empresa para mim.
Francisco Heiner ouviu a risada pelo telefone enquanto começava a suar e a pensar em todos os xingamentos possíveis.
- O que você fez, seu pilantra!?
- Eu acabei com seu rivalzinho. E agora tenho seu filho sob minha custódia. Quero que me venda sua empresa, como faria para o deputado.
- Não! Você é um...
- Excelente homem de negócios. Fale a verdade. – riu – tu tem até o meio dia de amanhã para me pagar. O que te dá umas dezesseis horas. Se não transferir os valores de sua empresa para este número que te passarei por fax, pode dar adeus a teu filho.
Desligou o telefone. Francisco Heiner era um homem de negócios, um grande empresário bem sucedido. Mas naquele momento, era um homem acabado. Choraria bastante se não recebesse uma visita inesperada naquele exato momento.
- Parece que estamos no mesmo barco, Francisco. – era ninguém menos que o deputado Aloísio Mendonça, com uma tipóia no braço.
- Aloísio? Como você...
- Pela porta da frente. As pessoas da sua empresa não me odeiam como você. O que me leva à seguinte pergunta: por que quis me matar?
Francisco abaixou a cabeça. Não tinha mais nada a perder. Nada mais importava.
- Você tinha um projeto de lei que iria prejudicar minha empresa. Além do mais, você sabe do meu envolvimento com...
- Ricardinho, o traficante. Eu sei. E agora vejo que seus motivos são mesmo coerentes. No teu lugar, faria o mesmo. – mostrou um sorriso cínico.
- Mas agora nada mais importa. Triminator terá minha empresa e poderá me extorquir para sempre porque tem meu filho sob seu poder. E eu não posso recorrer a polícia sem me arruinar totalmente.
- Não se desespere tão cedo, Heiner. Vamos nos unir. É nossa chance de acabar com dois dos nossos inimigos.
- Dois?
- Sim, meu caro. Rubro Negro e Triminator. Duas aberrações em uniformes coloridos. Mascarados que se julgam acima da lei. Eles se merecem. Merecem se matar.
Francisco raciocinou e deu um soco na mesa com um sorriso nervoso no rosto.
- Isso! Essa é minha chance! Rubro Negro irá salvar meu filho, porque é isso o que ele faz. Triminator e ele podem se matar depois disso!
Assim, Francisco Heiner sorriu e olhou o relógio. Estava esperando dar meia-noite.

Rubro Negro subiu as escadas de emergência do prédio vizinho ao da empresa de Heiner. Olhou para a janela onde ficava o escritório do empresário. Viu que ele estava sozinho, sentado em frente ao seu computador. Não visualizava sua expressão. Era meia noite e nenhum sinal de Triminator ou do filho dele. Era hora de agir.
Saltando, aterrissou rolando sobre o terraço. Depois desceu pelas escadas de emergência e arrombou a porta de Francisco Heiner.
- Vejo que eu estava certo. Triminator te traiu novamente.
- Você estava certo mesmo, Rubro Negro. Mas eu sei onde ele está agora. Por favor, salve meu filho.
- Não se humilhe. Já é suficientemente revoltante ajudar gente inescrupulosa como você. Mas saiba que tô fazendo isso pelo teu filho playboyzinho. – parou um momento para pensar – que merda, tô ajudando um futuro canalha. Mas enfim... Diga-me onde está Triminator?
- Favela do Humaitá. Esse é o endereço. – escreveu num pedaço de papel.

Rubro Negro corria pelas ruas naquela madrugada.
“Tenho mil coisas pra fazer pra faculdade, estudar para a bolsa e ainda ser o herói de uma família de burguesinhos. Por que eu tô fazendo isso mesmo? Que saco”.
Chegando à Rua do Humaitá, viu o morro onde havia várias casas e alguns barracos. Detestava Triminator ainda mais. Ele levou um jovem rico para a favela corroborando com a má fama que os moradores já têm. A idéia que “favelado” é bandido. Triminator pagaria com uma surra.
Indo ao endereço, o vigilante encontrou uma casa sobre o morro, feita de madeira. Ouviu alguém falando em voz alta sobre dinheiro, fama e personalidades da televisão. Definitivamente era a voz de Triminator.
Furtivamente, Rubro Negro se aproximou e se aproveitou das sombras daquela madrugada. Chegou perto da porta e pôs o olho no buraco da fechadura. Viu Maurício Heiner sentado no chão amarrado nas mãos e pernas, ao lado de um colchão e um prato com restos de comida. Triminator estava de costas para a porta, de frente para Maurício. O jovem estudante estava com olheiras profundas, uma cara de abatimento terrível. Triminator conversava como se fosse um amigo, falava amenidades.
“Filho da puta! É um mercenário amante do luxo. Quer se achar no nível do burguesinho ali. Tem maluco pra tudo mesmo.” Com um chute, Rubro Negro despedaçou a porta.
- Triminator, seu desgraçado! Prepare-se para levar uma surra que teu pai deveria ter dado!
- Rubro Negro! Como me encontrou aqui?
- Como te encontrei? Oras, eu sou foda!
Disparou um raio de plasma em seguida. A energia vermelha iluminou todo o quarto e Maurício fechou os olhos, recuando para um canto. Estava totalmente aterrorizado. Triminator estava no chão, colocando a mão sobre sua máscara, ajeitando os óculos grenás.
- Não importa, você é ralé e não vai vencer um homem sofisticado como eu.
Triminator pegou sua pistola e quando virou seu corpo para apontar e atirar, viu apenas a sola da bota de Rubro Negro voando e acertando seu queixo. Quebrou a parede de madeira do barraco e rolou para longe. O mercenário sentia seu nariz formigar e um filete de sangue escorrer. Parecia quebrado.
- Miserável! Você vai pagar!
Rubro Negro corria para sua direção para tentar golpear mais, mas Triminator conseguiu atirar com sua pistola laser. O herói mascarado teve que saltar para trás para desviar. Olhando para o lado, viu o jovem Maurício se debatendo, querendo se arrastar dali. Resolveu ajudá-lo primeiro.
- Calma, garoto. Vim te salvar aqui. – desamarrou suas mãos e pernas.
Maurício, sem falar nada, encarou Rubro Negro com terror nos olhos. Vendo que o vigilante mascarado nada fazia, o empurrou para o lado e levantou-se. Correu desesperadamente pela porta da frente.
- De nada, seu burguesinho mau agradecido!
Rubro Negro sentiu um golpe nas costas. Era Triminator desferindo um chute surpresa.
- Ele sabe diferenciar o certo e o errado, patife. Ele não é da sua laia.
- Triminator, por favor. Cale a boca!
Rubro Negro girou o braço e desferiu um soco cruzado. Triminator cuspiu sangue pela boca. Aproveitando o desequilíbrio que o soco provocou, o herói mascarado deu outro cruzado, mas com a outra mão. Triminator se virou totalmente para o outro lado com seus óculos grená trincados. Então, o mercenário ergueu as duas mãos espalmadas para frente.
- Por favor, não me bata mais. Não sou super-resistente como você, estou sofrendo! – choramingou Triminator.
Diante disso, Rubro Negro titubeou.
- Covarde de merda. Tu vai pra cadeia. – usou suas mãos para segurar os ombros de Triminator. Dessa vez, Rubro Negro foi inocente.
- Idiota!
Com um movimento rápido e surpreendente, Triminator se desvencilhou das mãos de Rubro Negro. Pegou sua pistola e mudou para a opção de paralisar e atingiu o herói mascarado. Antes que pudesse soltar um palavrão, Triminator o segurou pelo braço e ligou os motores do jato em suas costas.
- Agora você vai sofrer como nunca, Rubro Negro.
Ambos decolaram, destruindo o teto do barracão. Voaram até o céu escuro da madrugada carioca. Voaram para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Rubro Negro sentia seus músculos duros, paralisados. Aquela pistola o impressionava.
Triminator ergueu com seu braço esquerdo o Rubro Negro pelo braço.
- Adivinha só. Meu cinto me dá uma boa proteção e também super-força. Sabia disso? Melhorias de Francisco Heiner.
Desferiu um soco no rosto de Rubro Negro com a outra mão.
- Fraco. Bate que nem homem! – Rubro Negro mostrou um sorriso cínico.
Triminator ficou irritado e desferiu vários socos no rosto do herói mascarado. Cada golpe era muito duro e forte, fazia Rubro Negro sentir bastante. Seu nariz quebrou e seu olho direito ficou roxo. Outras escoriações foram lapidando o rosto do vigilante. Até que Triminator viu sua mão encharcada de sangue.
- Eca!
- Triminator, quando essa paralisia passar, você não terá perdão. Não adiantará choramingar por nada nesse mundo. Eu vou te desfigurar, cara.
- Não se eu te afogar primeiro.
Triminator largou o braço de Rubro Negro. Ele despencou de quase quarenta metros em direção à Lagoa Rodrigo de Freitas. Durante a queda, ele sentiu que podia se movimentar novamente. Não pensou duas vezes: apontou com seus braços para Triminator e atirou sua rajada de plasma com o máximo de energia que conseguia concentrar naquele momento.
O mercenário das três cores recebeu o golpe em cheio e perdeu o controle do jato em suas costas, aparentemente danificado. Perdeu altura e foi caindo na lagoa também.
Minutos depois, Rubro Negro saía da lagoa, encharcado e com o rosto apenas machucado. Seu poder de regeneração estava cuidando de fazer reparos em seu rosto. Ele tirou sua máscara e mirou seu rosto num retrovisor de um carro.
- Melhor que cirurgia plástica.
Recolocando a máscara foi para um ponto onde pudesse observar toda a lagoa. Vigiou até o sol nascer. Triminator estava desaparecido. Teria morrido afogado?

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