sexta-feira, 2 de julho de 2010

Rubro Negro #5 - Ciborgue Titânio: Armado e Perigoso



Era noite no Rio de Janeiro.

Arthur estava sentado no ônibus indo para o Leblon. Iria visitar Sofia para estudarem juntos para se ajudarem em suas respectivas bolsas de estudo: Arthur com a Idade Média, Sofia com a escravidão. Mas em sua cabeça, não parava de pensar nos últimos acontecimentos.

Havia enfrentado dois robôs que tinham o único intuito de matá-lo. Enfrentou um homem louco com roupa de diabo que fora contratado por um deputado que queria vê-lo morto. E antes disso, havia enfrentado seu próprio professor da bolsa de estudos, que havia se tornado num lobisomem e voltado ao normal sem mais nem menos. Arthur começava a pensar se era sua sina ser perseguido.

Chegando seu ponto, Arthur desceu do ônibus e caminhou até um grande prédio residencial. Seu destino era a cobertura, pois a família Hagen era bastante rica. Depois de ser recebido por porteiros, seguranças e mordomos, todos bem empolados e com nariz empinado com a certeza de ganharem mais salário que aquele estudante de história, Arthur esperou numa ante-sala.

Descendo as escadarias do segundo andar da cobertura, Sofia estava sorridente.

- Achei que não vinha mais. – disse, apontando para um relógio antigo.

- O trânsito nessa hora não é muito bom. – “Tive problemas com assaltantes de fuzil em Copacabana. Mas isso tu não vai saber” Pensava Arthur.

Os dois caminharam para outra sala, onde havia várias estantes com livros diversos. Ela parecia ter sua própria biblioteca particular.

- Sabe, fiquei preocupada com você quando o IFCS foi destruído.

- Sério? Bem, vaso ruim não quebra, né. – Sorriu, coçando o cabelo.

- Arthur sempre fazendo piada. – deu uma piscada de olho sugestiva. Arthur sentiu seu coração palpitar e seu rosto avermelhar.


Enquanto isso, num prédio mais baixo ao lado.

- Hoje vocês me pagarão caro, família Hagen. – um homem cerrava os punhos e balançava em direção à cobertura dos Hagen.

Ele era careca, pele branca de quem não gostava da praia. Sobrancelhas arqueadas, óculos acinzentados opacos e um rosto fechado. Aquele homem demonstrava não ser acostumado a rompante de fúria. Seu traje era cinza, mas portava uma armadura verde-escura com braceletes pesados. Seus óculos possuíam infravisão e por isso ele pode ter certeza da presença de seu alvo.

Apertando um botão no bracelete, ligou a ignição de seu jato-portátil. Decolou em direção à cobertura dos Hagen.


Sofia havia ido para se quarto, pegar alguns cadernos. Arthur estava sentado sobre a escrivaninha da biblioteca particular dos Hagen. Notou que eles tinham bastante interesse em história. De repente, Arthur ouviu gritos de Sofia. Correndo apressado, ele foi até seu quarto e se deparou com uma cena surpreendente.

- Me ponha no chão, seu lunático! – Sofia gritava, enquanto estava presa por uma rede metálica. A rede, por sua vez, saia do bracelete daquele homem absurdo. Parecia um cientista louco saindo do laboratório de ciências.

- Cale sua boca, menina. E você, moleque, não se meta aonde não é chamado.

Arthur correu na direção do careca, já pensando em como explicar sua enorme força, ao desferir um grande soco. Mas antes que pudesse se aproximar o suficiente daquele homem, Arthur recebeu um soco à distância. O braço daquele homem esticou-se por metros e atingiu-lhe o queixo.

- Isso é pra você aprender a não mexer com o Ciborgue Titânio.

Arthur foi jogado na parede oposta, batendo com a cabeça no chão. Foi um golpe espetacular e uma queda ainda mais espetacular. Sentiu sua cabeça latejar, pois aquela força não era comum. Antes que pudesse se levantar e aí sim, levantar suspeitas sobre sua resistência sobre-humana, Ciborgue Titânio decolou para longe, saindo pela janela e carregando Sofia Hagen em sua rede metálica.


A polícia cercou o quarteirão. Um helicóptero rondava a Zona Sul do Rio de Janeiro. Arthur estava numa sala da delegacia mais próxima conversando com dois detetives. Tudo isso em menos de uma hora.

“Mexer com gente rica é foda. Vai ver acham que eu tenho alguma coisa a ver com o seqüestro”.

Mas felizmente seus pensamentos estavam errados. Os detetives duvidavam que aquele jovem universitário fizesse parte de algum bando de seqüestradores. Sua ficha era limpa, pois enquanto membro de gangue, ele jamais fora pego pela polícia.

- Então, segundo sua descrição, o seqüestrador veio voando numa armadura verde e tinha rede e braços que esticavam? – o detetive olhava Arthur incrédulo. O outro segurava o riso.

- Exatamente. Sei que não vai acreditar em mim, mas estou falando a verdade. Ele se denominou Ciborgue Titânio. Seja lá o que isso signifique.

Nesse momento, a mãe de Sofia, que observava o interrogatório à Arthur, entrou na sala.

- Eu conheço esse nome. Acho que conheço essa pessoa.

Todos olharam surpresos para ela. Arthur pôs a mão no queixo.

- Há alguns anos a Fundação Hagen patrocinou um grupo de cientistas que ajudaram a desenvolver a tecnologia no Brasil. Eram homens brilhantes que tinha intenção de melhorar a vida das pessoas. Porém, por uma série de coisas e eu tive que fechar o departamento tecnológico. A maioria dos cientistas foi trabalhar para a Empresa Heiner, menos Vladimir Freitas. Ele pesquisava uma nova fórmula de energia alternativa e isso não era do interesse de Francisco Heiner. Desde então, nunca mais ouvi falar de Vladimir.

“Faz sentido o seqüestro. Ele quer vingança e dinheiro. Mas é foda engolir o discurso de tecnologia para ajudar a vida das pessoas. Só as pessoas que puderem pagar, ela esqueceu de mencionar. A maioria dos brasileiros simplesmente não têm e não teriam acesso”.

Os policiais decidiram que Arthur não era mais necessário ao caso. Porém, ele se importava com Sofia e queria saber mais sobre a investigação e algum modo do Rubro Negro ajudar. Ficou na delegacia esperando a polícia terminar de conversar com a mãe de Sofia, a senhora Ellen. Assim que ela saiu da sala, encontrou Arthur de cara amarrada.

- Eu sei que você se importa com ela. Ela me falou bastante de você. – Ellen estava serena, tentava passar tranqüilidade para Arthur, quando deveria ser o contrário.

- Eu quero ajudar no que puder. – disse o jovem.


Noutro canto da cidade, nos estaleiros, Ciborgue Titânio aterrissava num depósito abandonado. Sofia tentava se debater, mas a rede era muito resistente. Ela foi amarrada com cabos de aço, junto a uma torre de transmissão de rádio.

- O que quer de mim? Quem é você? – ela gritava, encarando seu raptor. Apesar de ser uma menina rica e criada com todas as mordomias e facilidades da vida, ela era bastante corajosa e determinada.

- Quem sou eu? E o que isso importa? Um louco? Recordo-me que tinha me chamado de lunático. Mas antes eu tinha um nome. – Ele sorria para Sofia enquanto gesticulava. Caminhou para um painel de controle com toda sorte de botões.

- Por favor, eu nunca fiz nada para você.

- Claro que não. É o que eu sempre digo. Nunca fizeram nada contra o doutor Vladimir. Ele que era louco, um lunático sonhador. Queria desenvolver uma forma de energia alternativa para ajudar as pessoas. Mas viu que não era interesse do grande capital que a energia fosse barata e acessível a todos. – Ciborgue Titânio gesticulava com olhar perdido, como se lembrasse de tudo que passou. Sua mente estava realmente perturbada.

- Tive que trabalhar sozinho, sem apoio, sem dinheiro. Então eu descobri que não devo me importar com ninguém. A ciência vem acima de tudo. E eu farei de tudo para conseguir concluir minha pesquisa.


Enquanto isso, na manhã seguinte, o deputado Aloísio Mendonça se pronunciou na televisão. Amigo da família Hagen, ele se colocou ao dispor de Ellen para ajudar no que pudesse. Arthur estava enojado, pensando se valia a pena aquela ajuda. O telejornal local concedeu a entrevista ao deputado, enquanto Arthur e Ellen Hagen assistiam nos bastidores do estúdio.

- Eu tenho um recado para o doutor Vladimir Freitas. A família de Sofia Hagen e seus amigos estão muitíssimos preocupados com a segurança dela. Estamos preparados para aceitar suas exigências, mas precisamos saber o que quer. Por favor, ligue para o estúdio da emissora assim que essa transmissão acabar. Queremos a segurança de Sofia Hagen, uma moça tão especial que ... – Arthur decidiu ignorar o resto do puxa-saquismo. Colocou a mão sobre o ombro de Ellen em apoio.

Assim que a transmissão acabou, o telefone tocou. O deputado atendeu ao telefonema. Os policiais começaram sua varredura para saber de onde a ligação vinha. Arthur estava muito ansioso. Bastava um endereço para ele sair correndo e por a máscara.

- Aqui é o Ciborgue Titânio. Aceito sua oferta generosa.

- E a senhorita Sofia? Ela está bem?

- Bem, algumas vezes, sacrifícios devem ser feitos em nome da ciência – ele sorria enquanto olhava para Sofia, presa, desanimada por ser incapaz de se soltar do cabo de aço.

- Se acontecer alguma coisa a ela, eu...

- Você o que? Não está em condições de fazer nada.

- Não conte com isso, seu lunático! Você é o símbolo de tudo que tem de errado nesse país...

“E assim vai o deputado Aloísio Mendonça. Um homem sem nenhum tato. Por ser um corrupto, deveria saber falar com criminosos mais facilmente”.

- Ousa falar assim com um cientista? – Ciborgue Titânio estava irritado. Sofia olhava para ele com terror.

- Cientista? Você é um covarde que seqüestra meninas indefesas.

- Covarde? – Ciborgue Titânio apertou firme entortando uma liga de metal da torre de transmissão. Estava com muita raiva. – Veremos quem é o covarde. Quero que você me entregue o dinheiro do resgate pessoalmente para mim. Quero cem milhões de dólares. E venha sozinho. Mando instruções por e-mail.

O deputado suou frio quando a ligação encerrou. Olhou para os lados. Todos estavam perplexos. Arthur com as mãos na cabeça. Mas pelo menos sabia o que fazer.


O endereço era a Ilha do Governador. Eles estavam num depósito perto do Morro do Cabaceiro. Lugar deserto, cercado por favelas pacificadas. A polícia e o BOPE seguiram o deputado até o Parque Almirante Souza Melo, quase quinhentos metros do depósito. Rubro Negro, entretanto, se deslocou furtivamente junto com o deputado.

Vestindo um terno e segurando uma maleta, o deputado se aproximou com as pernas bambas. Rubro Negro subia até o teto, procurando uma janela com visão privilegiada.

Ciborgue Titânio apareceu, saindo das sombras do depósito que era um galpão enorme e vazio. Com um comando, esticou seu braço até Aloísio Mendonça e retirou sua maleta.

- Senhorita Sofia está bem?

- Ela está em perfeitas condições. – ele abria a maleta, conferindo o dinheiro – já você, eu terei o prazer de quebrar seus ossos...

- Parado aí, Ciborgue Titânio – vindo da janela do teto, Rubro Negro jogou-se sobre o seqüestrador. Com um chute, o jogou a alguns metros.

Ciborgue Titânio se levantou furioso. Esticou seus braços, desferindo vários socos em direção ao Rubro Negro. O vigilante mascarado desviava como podia, usando sua grande agilidade, mas era impossível se aproximar.

- Acha mesmo que pode me vencer, seu palhaço mascarado?

Um dos socos encaixou no estômago do Rubro Negro. Ele curvou, sentindo-se aturdido. Foi o tempo suficiente para Ciborgue Titânio usar seu outro braço esticado para enrolar sobre o corpo do vigilante mascarado e apertar. Rubro Negro sentiu muita dor. Usando sua grande força, ele conseguiu se mexer um pouco. Vendo sua grande resistência, Ciborgue Titânio atirou Rubro Negro no chão, depois para o teto. Em seguida, para a parede. Rubro Negro estava com a cabeça girando e sentindo alguns ossos partidos.

- Escute aqui, Rubro Negro. Agora que tenho o dobro de reféns, quero o dobro do dinheiro. E em vinte e quatro horas.

Soltou um gás sonífero e Rubro Negro apagou.

Acordando horas depois com o depósito vazio. Sentiu-se extremamente culpado.


Final da noite, na cobertura dos Hagen no Leblon, Ellen Hagen estava no escritório apreensiva. Dois seguranças na porta. Porém, Rubro Negro veio da janela e contou a péssima notícia.

- Por que se meteu? Se não fosse por você, eu teria minha filha! – derramou uma lágrima. Os seguranças entraram e apontaram armas para Rubro Negro.

- Desculpe. – Ele não conseguiu falar nada mais. Pulou para fora dali. Uma queda muito grande que ele não fez questão de evitar. Era como uma punição. Acordou horas depois em meio ao lixo daquele apartamento.

“Que merda. Como pude estragar tudo? Ellen já não gosta de mim. Preciso ajudar de alguma forma. Acho que como Arthur eu sou menos indesejável.” Ele voltou para casa de madrugada, como Arthur. Chegou em casa e não conseguiu dormir, pensando na segurança de Sofia e no que fazer para ajudar.


No dia seguinte, Arthur avisou aos pais que iria continuar na casa de Ellen para acompanhar de perto o seqüestro. Sua mãe torceu o nariz, pois temia por sua segurança, mas seu pai deu apoio. Ele entendia que o jovem queria ser útil para alguém que gostava.

Na cobertura dos Hagen, Arthur chegou soltando uma idéia desesperada:

- Deixem que eu leve o dinheiro. Eu posso conversar com ele e ajudar a acalmar Sofia.

Apesar da recusa de Ellen, a polícia achou que poderia dar certo. Equipou Arthur com colete a prova de balas e escutas. Deram o sinal para o Ciborgue que estavam prontos e receberam por e-mail o novo endereço do encontro. Arthur foi numa viatura da polícia até Niterói, no Estaleiro Chamon. Ciborgue Titânio estava em um depósito abandonado de lá.

Uma vez dentro, Arthur foi recebido pelo cientista seqüestrador. Repetindo seus passos, o vilão esticou seu braço biônico e pegou a mala de dinheiro.

- Vai libertá-los?

- Sabe, garoto, da onde vêm estas minhas invenções biônicas? Todas usam como a minha fonte de energia alternativa. Energia de plasma. Você sabia disso?

- Não. Eu não entendo muito bem. Faço História e...

- Que pena. A polícia já foi melhor nessa cidade. Morra.

Um dos braços biônicos agarrou Arthur e o arremessou pela janela, há dez metros do chão. Sofia viu a cena e gritou desesperada.

Arthur caiu e sentiu quase nenhuma dor. Tirou sua blusa, o colete a prova de balas e os escutas da polícia. Vestiu sua máscara e voltou pulando pela janela.

- Rubro Negro está de volta!

- Virou sua profissão se meter onde não é chamado?

- Uma carreira em tanto, não? Sem salário e sem reconhecimento.

Ciborgue Titânio não era um homem das lutas, mas seus inventos lhe garantiam um equilíbrio de combate com Rubro Negro. Com um campo de força invisível, protegiam dos socos do vigilante que poderiam destruir uma parede. Com seus braços biônicos, possuía uma força descomunal e tinham um alcance de quase dez metros. Dessa forma, Rubro Negro encontrou muita dificuldade.

A principio, Rubro Negro pulava e corria em círculos, cercando Ciborgue Titânio, desviando dos golpes dos longos braços biônicos. Quando pulou sobre uma caixa de madeira, Rubro Negro encontrou tempo para concentrar sua rajada de plasma. Entretanto, Ciborgue conseguiu desviar, pois ligou no exato momento o seu jato portátil. Voando, Ciborgue Titânio se tornava mais difícil de ser atingido.

Rubro Negro percebeu que não adiantava parar para disparar sua rajada de plasma, então saltou para encurtar a distancia entre eles. Tentou atingir com um soco, mas os braços do Ciborgue o atingiram em cheio, arremessando para longe, destruindo caixas de madeira, se afundando em entulhos.

Ciborgue se aproximou com cautela e notou Rubro Negro atordoado. Usou seus dois braços biônicos para enredá-lo e apertá-lo. Dessa vez, o herói sentiu seus ossos se partirem mais rapidamente. A dor era insuportável. Sentiu sua consciência se perder. Sua visão foi se tornando turva.

- Não desiste, Rubro Negro!

A voz de Sofia fez Rubro Negro abrir os olhos desesperadamente. Ele precisava salvá-la a qualquer custo. Mesmo com a dor, concentrou seu poder e emitiu o estouro de energia, explodindo tudo à sua volta. Os braços biônicos se despedaçaram, inúteis. Ciborgue Titânio perdia sua força sobre-humana.

- Maldito Rubro Negro! Vai pagar com sua vida!

Cansado, cambaleando, Rubro Negro sorriu com aquela ameaça e disparou uma rajada de plasma sobre o Ciborgue Titânio. Ele foi arremessado contra a parede e bateu sua cabeça. Caiu inconsciente.

Depois de soltar Sofia e o deputado Aloísio Mendonça, ele correu pra fora. Sabia que Sofia iria ver como Arthur estava. Se jogando sobre algumas caixas, Rubro Negro pôs sua roupa e se tornou Arthur novamente. Sofia o encontrou em seguida.

- Arthur, você foi muito corajoso! Obrigada por vir me salvar.

- Mas eu não fiz nada.

- O Rubro Negro venceu aquele lunático, mas você fez sua parte.

Ela o abraçou. Aloísio apareceu, cheio de sorrisos.

- Rubro Negro não merece mais esse crédito que você, rapaz. Ele é um bandido mascarado que lutou contra outro criminoso. O verdadeiro herói aqui é você!


Depois, veio a imprensa para entrevistar Arthur. Ele sorriu desajeitado para as câmeras e teve que cumprimentar o deputado a contra gosto. Arthur sentiu pela primeira vez a popularidade que o Rubro Negro jamais teve.

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